A
promotora Carmen Carvalho, membro da equipe do Ministério Público do Rio de
Janeiro que investiga a morte da vereadora Marielle Franco (PSOL), fez campanha
pela eleição do presidente Jair Bolsonaro (PSL). Ela
também postou em sua rede social foto abraçada com o deputado Rodrigo Amorim
(PSL-RJ), que quebrou uma placa em homenagem à vereadora assassinada em 2018.
As
imagens foram divulgadas pelo jornalista Leandro Demori, editor-chefe do site
The Intercept Brasil, em sua conta no Twitter.
Carvalho
é membro do Gaeco (Grupo de Atuação Especial de Combate ao Crime Organizado),
que concentra o acompanhamento das investigações da Polícia Civil.
Ela
participou nesta quarta-feira (30) da entrevista coletiva em que o Ministério
Público do Rio de Janeiro classificou o depoimento do porteiro que envolveu o
presidente Jair Bolsonaro no caso como uma informação falsa. Essa declaração
foi dada pela promotora Simone Sibilio.
Em
sua conta no Instagram, Carvalho publicou uma foto com a camisa de Bolsonaro
durante a campanha eleitoral. Ela também manifestou emoção no dia 1º de
janeiro, na posse do presidente.
"Há
anos que não me sinto tão emocionada. Essa posse entra naquela lista de
conquistas, como se fosse uma vitória", escreveu ela.
Ela
também publicou uma foto abraçada com Amorim. Os dois estavam na solenidade de
entrega da medalha Tiradentes à promotora. A comenda foi proposta pelo deputado
estadual Carlos Augusto (PSD), delegado da Polícia Civil do Rio de Janeiro.
Promotores
ouvidos pela reportagem afirmam ser notório o envolvimento de Carvalho com
políticos e pautas conservadoras. Há também imagens dela ao lado do governador
Wilson Witzel (PSC-RJ).
A
Lei Orgânica Nacional do Ministério Público veda aos promotores que exerçam
"atividade político-partidária".
Em
2016, o Conselho Nacional do Ministério Público expediu recomendação deixando
expresso ser proibida "a participação de membro do Ministério Público em
situações que possam ensejar claramente a demonstração de apoio público a
candidato ou que deixe evidenciado, mesmo que de maneira informal, a vinculação
a determinado partido político".
A
legislação, contudo, não deixa expressa sanções para a prática. A análise cabe
à Corregedoria das promotorias, que têm o poder de advertir, censurar,
suspender demitir e cassar a aposentadoria dos membros do Ministério Público
"em caso de negligência no exercício das funções".
Promotora
desde 1994, sua lotação original é no 2º Tribunal do Júri da capital. Ela
também integra o Gaeco. O caso mais famoso em que Carvalho atuou foi a
investigação do desaparecimento do pedreiro Amarildo de Souza, em 2013 na
Rocinha.
A
promotora atuou tanto na investigação como no julgamento do caso na primeira
instância, que culminou com a condenação dos 12 denunciados -quatro foram absolvidos
na segunda instância.
O
Ministério Público foi procurado às 10h10 para comentar as publicações da
promotora nas redes sociais, mas não havia se manifestado até a publicação
desta reportagem.
Reportagem
do Jornal Nacional de terça-feira (29) apontou que um porteiro (cujo nome não
foi revelado) deu depoimento dizendo que, no dia do assassinato da vereadora,
Élcio Queiroz, ex-policial militar suspeito de envolvimento no crime, afirmou
na portaria do condomínio que iria à casa de Bolsonaro, na época deputado
federal.
Pelo
depoimento do porteiro apresentado pela emissora, ao interfonar para a casa de
Bolsonaro, um homem com a mesma voz do presidente teria atendido e autorizado a
entrada. O suspeito, no entanto, teria ido a outra casa dentro do condomínio.
Nesta
quarta, a promotora Simone Sibilio afirmou que a investigação teve acesso à
planilha da portaria do condomínio e às gravações do interfone e que restou
comprovado que a informação dada pelo porteiro não procede.