
A perícia do
Ministério Público do Rio que contrapôs o depoimento do porteiro do condomínio Vivendas
da Barra na investigação da morte da vereadora Marielle Franco foi
concluída às pressas, um dia após a veiculação da reportagem do Jornal Nacional
que revelou as declarações do profissional que trabalhava na guarita e ficou pronta em 2h15. A
informação consta do processo sobre o crime, cujo sigilo foi retirado. A
perícia também é incompleta por ter analisado somente os áudios que foram
gravados em um CD do condomínio, e não o computador original que poderia
apontar eventuais adulterações. O risco foi apontado em reportagem publicada
pela ‘Folha de S.Paulo’.
O
depoimento do porteiro envolveu o nome do presidente Jair Bolsonaro nas
investigações. Ele disse que um dos suspeitos de ter assassinado Marielle,
Élcio de Queiroz, dissera na portaria, no dia do crime, que iria à casa do
então deputado. Mas os aúdios periciados mostram que o visitante foi anunciado
para a casa de Ronnie Lessa, o outro suspeito. O Jornal Nacional mostrou na
reportagem que Bolsonaro estava em Brasília.
Os
detalhes do pedido de perícia aparecem no ofício de nº 996/2019, assinado pela
coordenadora do Grupo de Atuação Especial de Combate ao Crime Organizado
(GAECO) Simone Sibílio e protocolado às 13h05m daquele dia, duas horas e 25
minutos antes da apresentação dos resultados em uma coletiva de imprensa,
convocada às 14h14m daquele dia.
Embora
a Coordenadoria de Segurança e Inteligência do MP estivesse em posse das mídias
entregues pelo síndico desde o dia 15 deste mês, a oficialização dos
“quesitos”, ou seja, critérios técnicos a serem observados pelos peritos e
dúvidas da investigação a serem respondidas pelo laudo, ocorreu apenas após a
reportagem do Jornal Nacional com a divulgação dos registros da portaria do
Vivendas da Barra.

Ainda
de acordo com a reportagem, o porteiro afirmou duas vezes à Delegacia de
Homícidos (DH) da Capital ter ouvido a voz de Bolsonaro autorizando a entrada.
A
perícia se deu com base em um CD apresentado pelo síndico do condomínio. Não
houve, segundo o MP, apreensão dos equipamentos do sistema de portaria. Na
última quarta-feira, por volta de 10h40m, o vereador Carlos Bolsonaro (PSC-RJ)
publicou no Twitter um vídeo em que acessa os registros da data do crime no
sistema. Os critérios da perícia só foram criados pelo MP mais de duas horas
depois.
Ao
jornal “Folha de S. Paulo”, o presidente da Associação Brasileira de
Criminalística, Leandro Cerqueira, afirmou que não é possível identificar se um
arquivo foi apagado ou renomeado, uma vez que a perícia não teve acesso ao
equipamento original no qual foi gravado.
Já
a Associação Nacional dos Peritos Criminais Federais criticou o arquivamento da
notícia crime “sem o devido exame pericial oficial”.
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