Por Ricardo Noblat
Bolsonaro inaugurou seu
governo em 1º de janeiro de 2018 sob a suspeita de ter embolsado parte dos
salários que deveria ter pago a funcionários do seu gabinete na Câmara dos
Deputados ao longo de quase 30 anos. A tal da rachadinha. Dinheiro público com
destinação obrigatória. Assim, ele começou a enriquecer.
Bolsonaro terminou seu
governo em 30 de dezembro de 2022 sob a suspeita de roubar joias e artigos de
luxo presenteados ao Estado brasileiro por chefes de governo de outros países.
Apenas o valor de dois relógios é estimado em 100 mil dólares, o que equivale a
um ano e meio de salário presidencial.
Fez de um almirante da
Marinha, ministro das Minas e Energia, o muambeiro que lhe trouxe as joias
escondidas no fundo da mala. Fez de um general do Exército, do tenente-coronel
filho do general, de um primeiro-tenente e de outros assessores, camelôs
ocupados no estrangeiro com a venda das joias para aumentar sua fortuna.
Não há crime perfeito, há
crime mal investigado. E uma vez que a Polícia Federal descobriu o roubo das
joias, Bolsonaro ordenou que fossem recompradas para devolvê-las ao patrimônio
do Estado, fingir-se de inocente e escapar de ser condenado e preso como ladrão
e chefe de organização criminosa. Seria o seu fim.
Seria o fim da carreira de
um homem que muitos brasileiros ainda acreditam que foi enviado por Deus para
salvar o país. Um homem que, na véspera do estouro do escândalo, foi elogiado
pela própria mulher como tendo operado o resgate do patriotismo e plantando
“uma semente no coração das nossas crianças”.
Que boa semente ele plantou
no coração de crianças e adultos? A recompra das joias custou mais do que ele
ganhara com a venda. Mas logo o prejuízo virou lucro. Bolsonaro apelou para
doações a pretexto de pagar multas que devia. Devia algo como 1 milhão de
reais. Apurou 17 milhões de reais. Não pagou as multas.
O legado de Michelle, como
ela disse, “foi ter dado visibilidade aos invisíveis, trabalhando pelas mamães
atípicas”. A Polícia Federal pediu a quebra do sigilo bancário e fiscal do casal
exemplar; exemplo de bandidagem, de cafajestice, de emporcalhar com denúncias
falsas a honra alheia, e de desprezo pelas leis.
Dificilmente, Michelle será
presa. Dir-se-á que ela ignorava as falcatruas do marido, era uma mulher do
lar, evangélica, dedicada a cuidar da filha adolescente que o pai atribuía a
uma fraquejada dele. Dificilmente, Bolsonaro não será preso. Jamais admitiu ter
havido corrupção no seu governo, muito menos ser corrupto.
Por tudo que fez, merece,
sim, ser chamado de corrupto. Tomem-lhe o passaporte para que não fuja.
Vigiem-no. Do Metrópoles
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