A cerimônia da 96ª edição do
prêmio da Academia de Artes e Ciências Cinematográficas está prevista para
começar às 20 horas deste domingo e, apesar de surpresas sempre estarem no
radar, muitas cartas já parecem marcadas há algum tempo. Celebração da
indústria norte-americana que há algum tempo vem buscando retomar seu prestígio
popular e validação de várias maneiras, o Oscar tem este ano a melhor
oportunidade possível para exaltar o poderio de Hollywood: o favoritismo
inabalável de Oppenheimer.
Consagrado em todos os
grandes prêmios televisionados (Globo de Ouro, BAFTA, Critics Choice, SAG) e
vencedor no sindicato dos produtores e dos diretores, a cinebiografia do
criador da bomba atômica dirigida por Christopher Nolan – também absoluto
favorito a melhor diretor – se tornou a terceira maior bilheteria do ano, foi
enaltecida por grande parte da crítica e reacendeu na indústria a esperança em
filmes adultos históricos de grande porte. Há mais de uma década que o Oscar
não tem como vencedor de melhor filme um projeto da escala de Oppenheimer: com
13 indicações, deve levar tanto estatuetas técnicas (fotografia, trilha sonora,
montagem) quanto prêmios de atuação, com o favoritismo de Cillian Murphy, em
melhor ator, e de Robert Downey Jr, em ator coadjuvante.
O monopólio do filme de
Nolan é o principal adversário do igualmente grandioso épico Assassinos da lua
das flores, do lendário Martin Scorsese, aqui em sua 10ª nomeação (recorde
entre cineastas vivos). Lily Gladstone, no papel da personagem indígena real cuja
família é destruída por um plano maquiavélico para herdar sua fortuna em
petróleo, venceu o prêmio do Sindicato dos Atores e parece a maior chance do
filme não sair de mãos vazias, podendo ainda se tornar a primeira vitória de
uma atriz nativo-americana. A concorrência é forte, no entanto, já que a
aclamada atuação de Emma Stone na comédia absurdista Pobres criaturas, de
Yorgos Lanthimos, venceu o BAFTA e o Critics Choice. A atriz, que já venceu o
prêmio de melhor atriz por La La Land, tem boas chances, portanto, de
conquistar sua segunda estatueta com apenas 35 anos.
Fenômeno pop do último ano,
Barbie, de Greta Gerwig, é favorito em figurino e design de produção, mas sua
maior força está nas canções originais. ‘I’m just Ken’ e ‘What was I made for?’
lideram a corrida com larga vantagem em relação às demais músicas indicadas,
com chances muito próximas de vitória.
Lançado sem alarde no Prime
Video, a dramédia satírica Ficção americana, de Cord Jefferson, debate a
representação estereotipada da cultura negra na literatura estadunidense e vem
se consolidando como favorito em roteiro adaptado. Já a categoria de roteiro
original parece cada dia mais próxima de Anatomia de uma queda, drama de
tribunal de Justine Triet e que tem na inteligência dos diálogos e dos
subtextos a base da sua força. A comédia dramática natalina Os rejeitados, de
Alexander Payne, perdeu força nos últimos prêmios, mas tem como quase certa a
vitória de Da’Vine Joy Randolph na categoria de atriz coadjuvante. Já Maestro,
de Bradley Cooper, e Vidas passadas, de Celine Song, devem sair zerados da
cerimônia, embora o primeiro ainda possa levar o troféu de maquiagem.
Por estar indicado a melhor
filme, Zona de interesse, de Jonathan Glazer, olhar gélido sobre o dia a dia da
família do administrador de Auschwitz durante Segunda Guerra, é o favorito
natural a filme internacional e pode ainda ganhar o prêmio de som. E entre as
animações, a briga é de Homem-Aranha: Através do aranhaverso contra O menino e
a garça, com uma vantagem estatística para o primeiro, que venceu o Sindicato
dos Produtores e o Annie Awards, considerado ‘Oscar da animação’, mas que não
tira do páreo o longa aclamado de Hayao Miyazaki, que venceu o Globo de Ouro e
o BAFTA e se beneficia do fator sentimental de ser o provável último projeto do
lendário animador japonês.
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