O
parecer diz, em tese, que a gigante brasileira teria ocultado do mercado os
riscos envolvidos no negócio bilionário, no chamado "Carajás
africano". Steinmetz tenta provar que a mineradora mentiu ao tribunal
arbitral em Londres, onde conseguiu uma sentença favorável de US$ 2 bilhões. No
negócio, a Vale comprou de Steinmetz 51% da BSG Resources (BSGR), detentora de
concessões e licenças de exploração de minério de ferro de uma das maiores
minas inexplorada no mundo, uma transação de US$ 2,5 bilhões, com pagamento
antecipado de US$ 500 milhões ao israelense.
No
ano seguinte do acordo, em 2011, o recém-eleito presidente Alpha Condé iniciou
uma política de revisão de todas as concessões dos governos anteriores. A
investigação apontou indícios de suborno na concessão das minas a Steinmetz, em
2008. A Vale então foi buscar reparação e a sentença favorável foi obtida no
ano passado.
Steinmetz
nega que tenha havido corrupção, e afirma que a mineradora tinha conhecimento
de eventuais riscos envolvidos na concessão. Em seu parecer de 54 páginas, a
que o Estadão teve acesso, Moro afirma que "os executivos da Vale S/A
teriam, em tese, prestado afirmações falsas e ocultado fraudulentamente do
mercado e de seus acionistas as reais condições do negócio celebrado com a BSGR
acerca dos direitos de exploração sobre Simandou e sobre os motivos da rescisão
posterior".
O
texto, assinado em novembro, diz ainda que "as fraudes verificadas são
aptas a caracterizar, em tese, o tipo penal do art. 177, §1.o, I, do Código
Penal", diz Moro, citando a lei brasileira. O parecer do ex-juiz da Lava
Jato tem papel timbrado do escritório Wolff Moro, da esposa do ex-ministro
Rosângela Wolff Moro. Este trabalho de Moro foi produzido antes de sua ida à
consultoria Alvarez & Marsal. Em nota, a empresa disse que o ex-ministro
"não foi contratado para a divisão mencionada (no Reino Unido) e não está
envolvido em nenhuma parte desta área". Procurados, Benjamim Steinmetz,
Sergio Moro e Pedro Serrano não comentaram. A Vale disse que "todas as
declarações já foram objeto de desmentido público pelo próprio declarante, que
foi vítima de uma armação clandestina".