A
vantagem de 16,5 pontos porcentuais que o candidato Jair Bolsonaro (PSL) obteve
sobre Fernando Haddad (PT) e a composição mais conservadora do Congresso
Nacional levaram o Ibovespa, principal índice da Bolsa paulista, a movimentar
R$ 28,9 bilhões ontem, o maior volume nominal da história. A interpretação
dos investidores é de que o novo perfil do Congresso poderá dar governabilidade
a Bolsonaro, permitindo que ele encaminhe reformas econômicas, caso seja
eleito.
Na
lista das reformas estão a Reforma Trabalhista que deverá ser ampliada e a Reforma
da Previdência, que levou muitos eleitores a não votarem em parlamentares que
defendiam essas bandeiras.
Apesar
do feriado nos Estados Unidos – que costuma enfraquecer o movimento nos
mercados –, a Bolsa fechou o dia com alta de 4,57%, aos 86.083 pontos –
nível mais elevado em quase cinco meses. O dólar se descolou do exterior e
terminou em queda de 2,40%, aos R$ 3,76 – cotação mais baixa em dois
meses. “Nenhum analista político havia previsto uma renovação como a que se deu
no Congresso nem a vitória de governadores que apoiam Bolsonaro. O mercado
comemorou esses resultados”, disse a economista-chefe da XP Investimentos,
Zeina Latif. Ela destacou, porém, que os investidores estão desconsiderando os
riscos futuros. “A agenda econômica fica de escanteio no discurso de Bolsonaro.
Ontem (domingo à noite), ele falou em reduzir a carga tributária e privatizar
50 estatais, o que não é possível.”
O
economista Silvio Campos, da Tendências Consultoria, destacou que, apesar de o
conservadorismo ter crescido no Congresso, ainda há dúvidas em relação à
capacidade de articulação política do candidato de direita. “Prevaleceu o
conservadorismo, o que mostra que talvez não seja tão complexo para Bolsonaro,
se ele vencer, montar uma base. Mas a gestão dessa base gera
preocupação.”
Papéis das estatais foram os que mais
avançaram
As
ações das empresas relacionadas ao governo estão entre as que mais avançaram
ontem. Os papéis ordinários (com direito a voto) da Eletrobrás subiram 17,3%. O
economista Paulo Guedes, responsável pelo programa econômico de Bolsonaro, já
indicou a intenção de dar continuidade ao projeto do presidente Michel Temer de
privatizar a companhia.
As
ações preferenciais da Petrobrás (sem direito a voto) foram as mais
negociadas, movimentando R$ 947,7 milhões e subindo 11%. Segundo Campos, a alta
nesses papéis decorre da análise dos investidores de que as estatais estarão
mais blindadas de uma gestão politizada do que estariam em um eventual governo
petista. “Não é só a questão da possível privatização.”
Na
semana passada, o general Oswaldo de Jesus Ferreira, da equipe de Bolsonaro,
disse ao Estado que um possível governo do PSL não privatizaria empresas
estratégicas, como Furnas, Caixa e Banco do Brasil.
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