segunda-feira, 15 de setembro de 2025

Bolsonaro volta ao banco dos réus: TRF-4 julga ação por declarações racistas contra pessoas negras

             Menos de uma semana após ter sido condenado pelo Supremo Tribunal Federal (STF) a 27 anos e três meses de prisão por tentativa de golpe de Estado, o ex-presidente Jair Bolsonaro volta a enfrentar a Justiça. Nesta terça-feira (16), o Tribunal Regional Federal da 4ª Região (TRF-4), sediado em Porto Alegre, vai julgar uma ação civil pública movida pelo Ministério Público Federal (MPF) e pela Defensoria Pública da União (DPU) contra Bolsonaro e a União por declarações consideradas discriminatórias e preconceituosas contra pessoas negras.

O caso foi ajuizado em julho de 2021, ainda durante o mandato de Bolsonaro. A ação pede que o ex-presidente pague R$ 5 milhões em indenização coletiva, enquanto a União poderia ser condenada ao pagamento de R$ 10 milhões. Como se trata de uma ação civil, não há risco de prisão, mas os valores, em caso de condenação, seriam destinados a um fundo público em reparação aos danos causados à sociedade.

Em primeira instância, o pedido foi negado, mas o MPF e a DPU recorreram. O recurso será analisado agora pelo TRF-4.

O processo aponta que Bolsonaro fez uma série de falas ofensivas entre os dias 4 e 6 de maio de 2021 e em 8 de julho do mesmo ano, tanto em conversas com apoiadores nos arredores do Palácio da Alvorada quanto em transmissões ao vivo pelas redes sociais.

Em uma dessas ocasiões, riu ao comparar o cabelo crespo de um apoiador a um “criatório de baratas”. Em seguida, recomendou o uso de ivermectina – vermífugo que defendia para o tratamento da Covid-19 – dizendo: “Vai matar todos os seus piolhos”.

Dois dias antes, ao se dirigir a outro apoiador de cabelo crespo, perguntou: “O que que você cria nessa cabeleira aí?”. E em 6 de maio, voltou a se referir ao mesmo simpatizante com a frase: “Tô vendo uma barata aqui”.

Na “live do presidente”, em 8 de julho, Bolsonaro convidou o apoiador alvo das piadas e reforçou as ofensas, dizendo frases como:

“Se eu tivesse um cabelo desse naquela época, minha mãe me cobriria de pancada.”

“Você toma banho quantas vezes por mês?”

“Se criarem cota para feios, você vai ser deputado federal.”

Na mesma transmissão, exibiu uma foto da apresentadora Maju Coutinho e comentou ironicamente sobre sua aparência, embora tenha evitado ataques diretos.

Para os órgãos, as falas do ex-presidente ultrapassaram o limite da liberdade de expressão e configuraram discurso de ódio.

“As condutas de Jair Bolsonaro extrapolam os limites da ofensa individual e específica ao cidadão presente nas ocasiões de suas manifestações, já que o discurso proferido, antes de ser direcionado a um indivíduo, configura verdadeira ofensa estigmatizante de discriminação e intolerância a qualquer pessoa negra”, diz um trecho da ação.

A DPU acrescenta que a União também deve ser responsabilizada, uma vez que Bolsonaro, no cargo de presidente, representava oficialmente o Estado brasileiro.

O julgamento no TRF-4 ocorre em meio a um dos momentos mais delicados da trajetória judicial de Jair Bolsonaro. Além da condenação criminal pelo STF, ele responde a outros processos cíveis e administrativos, que podem gerar desde perdas financeiras milionárias até novos obstáculos em sua atuação política. 

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