Entre a memória e a história:
como Miguel Arraes e Eduardo Campos inspiram a luta contínua pela democracia uniu
avô, neto e um Brasil que não desiste
Era manhã de quarta-feira, 13 de agosto de 2014. Chovia em Santos, o céu cinza e o clima frio pareciam sussurrar um silêncio carregado de dor. Eduardo Campos, candidato à presidência da República pelo PSB, encerrava no dia anterior sua histórica entrevista ao Jornal Nacional, com uma voz firme e cheia de esperança, lançando ao Brasil a frase que ecoaria como um mantra:
“Não vamos desistir
do Brasil.”
Pouco depois, a tragédia
tomou conta do país. O avião que levava Eduardo e seus companheiros caiu no
bairro Boqueirão, em Santos, ceifando a vida daquele líder de apenas 49 anos e
de seis pessoas que partilhavam seu sonho. A comoção nacional era a prova da
força de um homem que, em pouco tempo, soube ser voz, líder e esperança para
Pernambuco e caminhada para ser referência no Brasil.
Mas essa chama não surgiu do
nada. Duas décadas antes, num 13 de agosto diferente, porém tão simbólico,
morria Miguel Arraes, seu avô, o homem que tinha o cheiro do povo, que era mito
e verdade ao mesmo tempo. Figura quase folclórica, sua imagem era tão próxima
do povo que, certa vez, serviu até de ingrediente para chá — um símbolo do
cotidiano de uma gente simples que o via como pai, voz e resistência.
Arraes, com seu bom humor,
era a personificação do político que não se encontra mais nos dias atuais: um
homem do povo, que nunca perdeu o contato com as raízes e a simplicidade.
Governador por três vezes de Pernambuco, enfrentou a repressão brutal da
ditadura militar com coragem e dignidade. Quando em 1964 se recusou a renunciar
ao governo, honrou o voto do povo e foi punido com prisão e exílio por 14 anos,
mas jamais perdeu a voz ou a esperança.
Seu retorno ao Brasil,
embalado pela Lei da Anistia, reacendeu a chama da democracia num país que
ainda lutava para se libertar das sombras do autoritarismo. Arraes era o pai
dos pobres, o político da resistência, o mito que inspirou gerações e fez da
democracia sua bandeira. Uma de suas frases icônicas é: “A vida não se
resolve, a vida se vive e vou viver lutando até o fim”
Eduardo Campos trazia em seu
sangue, em seu jeito de ser e em sua inteligência política, a herança de seu
avô. Um verdadeiro Agamenon moderno, que não apenas liderou, mas também plantou
sementes, criou novas lideranças e conduziu Pernambuco a um novo patamar de
desenvolvimento. Sua visão ultrapassou o horizonte do Estado, almejando um
Brasil melhor e mais justo.
Hoje, o legado de Eduardo
vive em seu filho, João Campos, prefeito do Recife, um dos maiores expoentes
dessa trajetória política e de luta, que continua a honrar a história de sua
família e a caminhar pelos ideais que os dois — avô e neto — deixaram como
patrimônio do povo pernambucano e brasileiro.
Lembramos, assim, desses
dois gigantes que, em momentos distintos, encarnaram a coragem, a esperança e a
resistência — qualidades tão necessárias para a democracia que sustentamos e
que tanto falta nos fazem hoje quando o autoritarismo travestido de
modernidade, ameaça a verdadeira liberdade. A frase de Eduardo, “Não
vamos desistir do Brasil”, não é só um lema, é um compromisso que
atravessa gerações, assim como a coragem e o sorriso de Miguel Arraes.
Ela nos chama à ação, à
reflexão e à luta diária pela democracia que sustenta nossa nação. Nesta
memória compartilhada, reafirmamos que a luta deles é a nossa luta. Que a
democracia, assim como a chuva que caia silenciosa em Santos há 11 anos ou a
brisa que passa pelo Palácio do Campos das Princesas, seja sempre renovada,
viva, resistente na luta cotidiana pela justiça, pela liberdade e pelo Brasil
que eles sempre acreditaram ser possível.
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