Há pesquisas que iluminam
caminhos.
E há pesquisas que mais
parecem sombras projetadas num muro, tentando, à força, ganhar forma.
Nas últimas horas,
Pernambuco assistiu ao aparecimento de um daqueles levantamentos que surgem de
súbito, sem aviso, sem histórico, sem metodologia, mas com uma pretensão
curiosamente gigantesca: reescrever, num passe de mágica, a narrativa
consolidada por institutos de credibilidade reconhecida.
No centro da polêmica, duas
empresas recém-criadas em Macaparana — Opinform Inova Simples I.S. e Opindata
Inova Simples I.S. — que, apesar dos nomes modernos, carregam um peso
inquietante: o da desconfiança generalizada. Ambas praticamente sem lastro, sem
estrutura visível, sem experiência, sem histórico de campo, mas com uma ousadia
notável ao divulgar números que destoam de tudo o que tem sido registrado há
meses sobre a corrida ao Governo de Pernambuco.
A pesquisa afirma ter ouvido
10 mil pessoas entre 1º e 5 de dezembro — um volume de entrevistas que, para
qualquer instituto consolidado, demandaria logística, equipe treinada,
capacidade operacional e recursos expressivos. Porém, nos bastidores da
política pernambucana, a pergunta que mais ecoa não é apenas “como?”, mas
principalmente “quem?”.
E é justamente o silêncio
sobre esses detalhes que faz o barulho crescer.
Segundo os números
divulgados por essas empresas recém-saídas do papel, a diferença entre João
Campos e Raquel Lyra, antes situada com folga superior a 20 pontos em quase
todos os institutos respeitados do país, teria, subitamente, despencado para
apenas 8,6 pontos na estimulada. E, num hipotético segundo turno, a vantagem
cairia para apenas 4,7 pontos.
Uma virada tão brusca quanto
improvável.
Quase como se o cenário
político inteiro tivesse sido reorganizado em menos de uma semana — sem fatos
novos, sem movimentos estratégicos relevantes, sem ondas de opinião
perceptíveis.
Natural, portanto, que o
estranhamento se instalasse.
Porque, quando se confronta
esse levantamento com a média das pesquisas consolidadas — aquelas feitas por
institutos tradicionais, auditáveis, conhecidos nacionalmente — a discrepância
salta como um lampejo incômodo: nada, absolutamente nada, indica uma redução
tão abrupta.
E é aqui que esta crônica
encontra seu centro de gravidade.
Vivemos um tempo em que a
pesquisa eleitoral, instrumento nobre de análise social e comportamento
político, tem sido convertida, com frequência, em arma. Uma arma de construção
de narrativas. Uma arma para estimular ilusões. Uma tábua de salvação para quem
precisa mostrar força. Uma bóia jogada ao mar para candidaturas que lutam para
não afundar.
A questão que fica,
portanto, não é apenas “quem divulgou?”, mas “com qual intenção?”.
A eleição de 2026 ainda está
distante. Há tempo para movimentos, para erros, para mudanças e até para
surpresas — como toda democracia costuma permitir.
João Campos navega, até
aqui, em águas favoráveis, sustentado por pesquisas reconhecidamente confiáveis
e por uma sequência de resultados sólidos.
Raquel Lyra, apesar dos
desafios, ainda tem uma janela — não larga, é verdade — para tentar reverter
desgastes e buscar competitividade real.
Mas nenhuma dessas trajetórias
se altera com planilhas improvisadas.
Nem com institutos fugazes. Nem com números que aparecem do nada, sem raiz, sem
método, sem luz.
Porque, em política, até as mentiras precisam ter algum talento. No fim das contas, o eleitor merece respeito. E a democracia, mais ainda.
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