sexta-feira, 5 de dezembro de 2025

Política à Mesa: Quando os Números Falam… e Quando Apenas Sussurram

Há pesquisas que iluminam caminhos.

E há pesquisas que mais parecem sombras projetadas num muro, tentando, à força, ganhar forma.

Nas últimas horas, Pernambuco assistiu ao aparecimento de um daqueles levantamentos que surgem de súbito, sem aviso, sem histórico, sem metodologia, mas com uma pretensão curiosamente gigantesca: reescrever, num passe de mágica, a narrativa consolidada por institutos de credibilidade reconhecida.

No centro da polêmica, duas empresas recém-criadas em Macaparana — Opinform Inova Simples I.S. e Opindata Inova Simples I.S. — que, apesar dos nomes modernos, carregam um peso inquietante: o da desconfiança generalizada. Ambas praticamente sem lastro, sem estrutura visível, sem experiência, sem histórico de campo, mas com uma ousadia notável ao divulgar números que destoam de tudo o que tem sido registrado há meses sobre a corrida ao Governo de Pernambuco.

A pesquisa afirma ter ouvido 10 mil pessoas entre 1º e 5 de dezembro — um volume de entrevistas que, para qualquer instituto consolidado, demandaria logística, equipe treinada, capacidade operacional e recursos expressivos. Porém, nos bastidores da política pernambucana, a pergunta que mais ecoa não é apenas “como?”, mas principalmente “quem?”.

Quem realizou o campo?
Quem supervisionou?
Quem auditou?
Quem garante?

E é justamente o silêncio sobre esses detalhes que faz o barulho crescer.

Segundo os números divulgados por essas empresas recém-saídas do papel, a diferença entre João Campos e Raquel Lyra, antes situada com folga superior a 20 pontos em quase todos os institutos respeitados do país, teria, subitamente, despencado para apenas 8,6 pontos na estimulada. E, num hipotético segundo turno, a vantagem cairia para apenas 4,7 pontos.

Uma virada tão brusca quanto improvável.

Quase como se o cenário político inteiro tivesse sido reorganizado em menos de uma semana — sem fatos novos, sem movimentos estratégicos relevantes, sem ondas de opinião perceptíveis.

Natural, portanto, que o estranhamento se instalasse.

Estranhamento dos analistas.
Estranhamento dos políticos.
Estranhamento do público.

Porque, quando se confronta esse levantamento com a média das pesquisas consolidadas — aquelas feitas por institutos tradicionais, auditáveis, conhecidos nacionalmente — a discrepância salta como um lampejo incômodo: nada, absolutamente nada, indica uma redução tão abrupta.

E é aqui que esta crônica encontra seu centro de gravidade.

Vivemos um tempo em que a pesquisa eleitoral, instrumento nobre de análise social e comportamento político, tem sido convertida, com frequência, em arma. Uma arma de construção de narrativas. Uma arma para estimular ilusões. Uma tábua de salvação para quem precisa mostrar força. Uma bóia jogada ao mar para candidaturas que lutam para não afundar.

A questão que fica, portanto, não é apenas “quem divulgou?”, mas “com qual intenção?”.

A eleição de 2026 ainda está distante. Há tempo para movimentos, para erros, para mudanças e até para surpresas — como toda democracia costuma permitir.

João Campos navega, até aqui, em águas favoráveis, sustentado por pesquisas reconhecidamente confiáveis e por uma sequência de resultados sólidos.

Raquel Lyra, apesar dos desafios, ainda tem uma janela — não larga, é verdade — para tentar reverter desgastes e buscar competitividade real.

Mas nenhuma dessas trajetórias se altera com planilhas improvisadas.
Nem com institutos fugazes. Nem com números que aparecem do nada, sem raiz, sem método, sem luz.

Porque, em política, até as mentiras precisam ter algum talento. No fim das contas, o eleitor merece respeito. E a democracia, mais ainda. 

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