quarta-feira, 17 de setembro de 2025

Ex-editora do Washington Post alerta para risco de autocracia nos Estados Unidos

                 A renomada jornalista americana Ruth Marcus, que integrou a redação do The Washington Post por mais de quatro décadas, deixou o jornal em março deste ano após uma série de mudanças editoriais determinadas pelo proprietário do veículo, o bilionário Jeff Bezos, fundador da Amazon. Em entrevista ao jornal O Estado de S. Paulo, Ruth criticou duramente as novas diretrizes do Post e alertou para os riscos crescentes de uma autocracia nos Estados Unidos sob a liderança de Donald Trump.

Segundo Marcus, a decisão de Bezos de abolir os tradicionais editoriais de apoio a candidatos presidenciais — prática histórica do jornal desde 1976 — foi apenas o primeiro sinal de uma mudança estrutural. O empresário, posteriormente, restringiu a linha editorial de opinião a dois temas: livre mercado e liberdades individuais. A medida, considerada uma limitação drástica da pluralidade jornalística, foi decisiva para a saída da jornalista.

“Não tive escolha a não ser pedir demissão, precisava garantir a minha independência e não podia fazer isso no Post”, declarou Ruth.

A jornalista revelou ainda que teve um artigo crítico às mudanças editoriais censurado pelo jornal, o que evidenciou a interferência direta do proprietário na condução do debate público. Para ela, a postura de Bezos aproxima o Post de uma lógica de alinhamento político motivada por interesses econômicos e, sobretudo, pela aproximação com Donald Trump.

“Ele está pensando em seus interesses econômicos, mas não é algo que um proprietário de um jornal deveria fazer”, afirmou.

Especialista em questões da Suprema Corte americana, Marcus fez um alerta grave: a fragmentação do sistema de freios e contrapesos pode abrir caminho para a consolidação de um governo autoritário nos Estados Unidos.

“Estamos vendo o início de uma autocracia nos Estados Unidos”, disse.

Ela criticou ainda a postura do Congresso e da Suprema Corte, que, segundo ela, têm agido de maneira conivente com os avanços de Trump sobre as instituições democráticas.

“A Suprema Corte é muito conservadora e tem uma visão inflada do poder presidencial e o nosso Legislativo aceita tudo que Trump quer fazer, mas somos resilientes”, avaliou.

A saída de Ruth Marcus marca não apenas o fim de uma trajetória de mais de 40 anos em um dos jornais mais influentes do mundo, mas também levanta uma discussão crucial sobre os rumos da imprensa, a independência editorial e a resistência das democracias diante da ascensão de projetos autoritários.

Enquanto Bezos defende um jornalismo mais alinhado a determinados valores de mercado, Ruth alerta para o risco de silenciamento da diversidade de vozes e da crítica política. Para ela, a luta pela liberdade de expressão e pela autonomia do jornalismo nunca foi tão urgente quanto agora. 

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