Mas iguais até certo ponto.
Se a emenda prosperar no Senado, os parlamentares passam a viver num condomínio
de privilégios. Crimes como homicídio, estupro, corrupção, lavagem de dinheiro
e outros de alta gravidade só poderão ser investigados ou julgados se a própria
Câmara ou o Senado autorizarem. Em outras palavras: se um deputado matar
alguém, não irá direto para a Justiça como qualquer cidadão. Caberá primeiro ao
clube dos colegas decidir se o processo anda ou não. Caso prospere, a turma do
PCC, Comando Vermelho já vão entrar com pedido de regularização partidária para
lançar seus candidatos.
Exemplos não faltam para
mostrar como essa blindagem seria útil a muitos. Quantas vezes vimos deputados
e senadores se protegendo em votações secretas, arquivando denúncias ou
segurando pedidos de cassação? Transformar isso em regra constitucional é
institucionalizar a impunidade. É criar uma casta política acima da lei, justamente
no país onde já é tão difícil garantir que ela alcance os mais poderosos.
O mais triste é ver que
figuras que um dia se apresentaram como progressistas — e até setores de
direita que hoje admitem arrependimento — tenham apertado o botão “sim” para
aprovar esse retrocesso. A democracia não é um privilégio da esquerda, da
direita ou do centro. Ela é o único chão possível para todos. E, ao legitimar
essa emenda, o Congresso deixa claro que prefere salvar a própria pele a
proteger a igualdade constitucional.
Não é de agora que tentam
colocar a democracia contra a parede. Mas a PEC da Vergonha talvez seja um dos
maiores ataques ao princípio da República desde a redemocratização. É o recado
de que, no Brasil, a lei não é cega: ela tem vista grossa para quem veste terno
e ocupa cadeira no plenário.
É hora da sociedade acordar.
Porque, se deixarmos essa blindagem avançar, amanhã não haverá diferença entre
um cidadão comum e um parlamentar acusado de crime — exceto que um responderá à
Justiça, e o outro, não. O outro, fica rindo da sua cara! Por Paulo ER Carvalho


Nenhum comentário:
Postar um comentário