sábado, 24 de maio de 2025

Sebastião Salgado: uma lente eterna em tempos fugazes

Morre o homem, permanece a luz que ele viu e nos ensinou a enxergar

Nesta sexta-feira, 23 de maio, o mundo silenciou diante da perda de um de seus mais sensíveis e profundos observadores. Sebastião Salgado, fotógrafo e contador de verdades em preto e branco, partiu aos 81 anos. Sua morte, confirmada pelo Instituto Terra — organização fundada por ele e sua esposa, Lélia Deluiz Wanick Salgado — marca o fim de uma existência física, mas jamais de uma presença. Salgado não se apaga: permanece em cada imagem que capturou com a alma.

Num tempo em que o efêmero predomina, em que a relevância se mede por curtidas e a memória se dissolve no scroll da timeline, Salgado foi resistência. Sua fotografia não era mero registro — era denúncia, poesia, testemunho e compaixão. Ele não apenas apontava sua câmera: mergulhava no mundo, nas misérias e milagres da humanidade, e emergia com imagens que não se esquecem.

Nascido em Aimorés, Minas Gerais, Sebastião Salgado projetou-se para o mundo, mas nunca se desligou de suas raízes. Com formação em economia, sua trajetória foi radicalmente alterada ao descobrir na fotografia não só uma linguagem, mas uma missão: a de revelar o ser humano em sua plenitude e fragilidade.

Passou por desertos africanos, campos de refugiados, florestas amazônicas, garimpos e zonas de guerra. Sua lente percorreu os quatro cantos do planeta — dos Goyas de barro da Etiópia aos fantasmas da industrialização soviética. Trabalhos como Êxodos, Trabalhadores e Gênesis não são meros livros de fotografia: são livros de história, espiritualidade e humanidade.

Nada do que foi construído teria sido possível sem Lélia, sua esposa, curadora e coautora da vida. Juntos, fundaram o Instituto Terra, que transformou mais de 600 hectares de terras devastadas em Mata Atlântica viva. É um dos maiores gestos de devolução ambiental do planeta. Porque Salgado não retratava apenas a dor: acreditava na restauração.

“O homem que viu o mundo” também foi o homem que quis curá-lo.

O mundo digital vive de instantes, mas a obra de Salgado desafia essa lógica. Ele pertence à galeria dos que constroem o eterno. Cada imagem sua é um manifesto silencioso que grita: há dignidade na pobreza, beleza na resistência, força na dor. E é possível, sim, reinventar o amanhã com ações concretas.

Sebastião Salgado não cabe em um post. Sua vida e arte são um convite à pausa, ao olhar verdadeiro e à escuta silenciosa da humanidade. Seu legado ecoa nas universidades, nos museus, nos livros e na floresta replantada — uma fotografia viva, que respira e ensina. Por Paulo Edson

Adeus, Sebastião. Obrigado por nos ensinar que ver é, sobretudo, sentir. 

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