Morre o homem, permanece a luz que ele viu e nos ensinou a enxergar
Nesta sexta-feira, 23 de
maio, o mundo silenciou diante da perda de um de seus mais sensíveis e
profundos observadores. Sebastião Salgado, fotógrafo e contador de verdades em
preto e branco, partiu aos 81 anos. Sua morte, confirmada pelo Instituto Terra
— organização fundada por ele e sua esposa, Lélia Deluiz Wanick Salgado — marca
o fim de uma existência física, mas jamais de uma presença. Salgado não se
apaga: permanece em cada imagem que capturou com a alma.
Num tempo em que o efêmero
predomina, em que a relevância se mede por curtidas e a memória se dissolve no
scroll da timeline, Salgado foi resistência. Sua fotografia não era mero
registro — era denúncia, poesia, testemunho e compaixão. Ele não apenas
apontava sua câmera: mergulhava no mundo, nas misérias e milagres da
humanidade, e emergia com imagens que não se esquecem.
Nascido em Aimorés, Minas
Gerais, Sebastião Salgado projetou-se para o mundo, mas nunca se desligou de
suas raízes. Com formação em economia, sua trajetória foi radicalmente alterada
ao descobrir na fotografia não só uma linguagem, mas uma missão: a de revelar o
ser humano em sua plenitude e fragilidade.
Passou por desertos
africanos, campos de refugiados, florestas amazônicas, garimpos e zonas de
guerra. Sua lente percorreu os quatro cantos do planeta — dos Goyas de barro da
Etiópia aos fantasmas da industrialização soviética. Trabalhos como Êxodos, Trabalhadores
e Gênesis não são meros livros de fotografia: são livros de história,
espiritualidade e humanidade.
Nada do que foi construído
teria sido possível sem Lélia, sua esposa, curadora e coautora da vida. Juntos,
fundaram o Instituto Terra, que transformou mais de 600 hectares de terras
devastadas em Mata Atlântica viva. É um dos maiores gestos de devolução
ambiental do planeta. Porque Salgado não retratava apenas a dor: acreditava na
restauração.
“O homem que viu o
mundo” também foi o homem que quis curá-lo.
O mundo digital vive de
instantes, mas a obra de Salgado desafia essa lógica. Ele pertence à galeria
dos que constroem o eterno. Cada imagem sua é um manifesto silencioso que
grita: há dignidade na pobreza, beleza na resistência, força na dor. E é
possível, sim, reinventar o amanhã com ações concretas.
Sebastião Salgado não cabe
em um post. Sua vida e arte são um convite à pausa, ao olhar verdadeiro e à
escuta silenciosa da humanidade. Seu legado ecoa nas universidades, nos museus,
nos livros e na floresta replantada — uma fotografia viva, que respira e ensina. Por Paulo Edson
Adeus, Sebastião. Obrigado por nos ensinar que ver é, sobretudo, sentir.
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