segunda-feira, 1 de dezembro de 2025

Luzes, Vendas e o Relógio que não Para: A Polêmica das 20h

                 Dezembro chegou e, com ele, o brilho das luzes natalinas que costumam renovar as esperanças — e, claro, as vitrines. Mas, em Arcoverde, o clima de "Noite Feliz" foi atropelado por uma dissonância ruidosa entre quem manda abrir as portas e quem fica atrás do balcão. A iniciativa da Associação Comercial e Empresarial de Arcoverde (ACA) e da CDL de estender o horário do comércio até às 20h, anunciada como uma medida para "fortalecer o dinamismo econômico", acabou acendendo um pavio curto nas redes sociais e nos bastidores sindicais.

A lógica do patronato é clara e, sob a ótica do lucro, defensável: mais horas de porta aberta na Avenida Coronel Antônio Japiassu e no Largo Antônio Franklin Cordeiro significam, em tese, mais fluxo, mais vendas e uma cidade vibrante. A ACA bateu o martelo, chamando para si a "deliberação exclusiva" da medida. O problema é que, numa relação de trabalho, não se dança tango sozinho.

A reação foi imediata e digitalmente feroz. Nas redes sociais, o anúncio não foi recebido com aplausos pela "modernização" do horário, mas com a revolta de quem visualiza a exaustão. A classe comerciária, que já carrega o peso de um ano difícil, enxergou na medida não uma oportunidade, mas um fardo. A crítica central é simples: a decisão foi unilateral. Esqueceu-se de combinar com os russos — ou melhor, com os Comerciários ou seus representantes. Sem o aval da categoria e sem um acordo coletivo que garanta a legalidade e a compensação dessas horas, o "dinamismo econômico" pode ter efeito contrário.

Foi nesse vácuo de diálogo que o Partido dos Trabalhadores (PT) de Arcoverde inseriu uma pergunta cirúrgica em sua nota de repúdio: essa extensão de horário virá acompanhada de novas contratações ou servirá apenas para "espremer" o quadro atual de funcionários?

Aí reside o "X" da questão. Se a ampliação do horário até às 20h significasse a abertura de um turno extra, com a contratação de temporários, a medida seria um presente de Natal antecipado para os desempregados da cidade. Seria benéfico, geraria renda e oxigenaria a economia. No entanto, o temor — legítimo e ecoado pelo PT e pelos trabalhadores nas redes — é que a "festa" do comércio seja custeada pelo suor de quem já cumpre suas 8 horas diárias.

Não aceitar que o crescimento se construa sobre a precarização não é ser contra o progresso; é ser a favor da dignidade. O comércio de Arcoverde precisa, sim, vender. Precisa faturar e recuperar tempos perdidos. Mas o cliente que compra o presente de Natal não quer levar para casa, na sacola, a invisibilidade do cansaço alheio.

Para que as luzes da Coronel Antônio Japiassu brilhem de verdade até às 20h, é preciso mais do que uma nota oficial das entidades patronais. É preciso acordo, é preciso lei e, acima de tudo, humanidade. Sem isso, o "horário estendido" será apenas um eufemismo para exaustão do trabalhador, e o Natal, ao invés de iluminado, ficará um tom mais cinza para quem faz a roda da economia girar. 

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