A lógica do patronato é
clara e, sob a ótica do lucro, defensável: mais horas de porta aberta na
Avenida Coronel Antônio Japiassu e no Largo Antônio Franklin Cordeiro
significam, em tese, mais fluxo, mais vendas e uma cidade vibrante. A ACA bateu
o martelo, chamando para si a "deliberação exclusiva" da medida. O
problema é que, numa relação de trabalho, não se dança tango sozinho.
A reação foi imediata e
digitalmente feroz. Nas redes sociais, o anúncio não foi recebido com aplausos
pela "modernização" do horário, mas com a revolta de quem visualiza a
exaustão. A classe comerciária, que já carrega o peso de um ano difícil,
enxergou na medida não uma oportunidade, mas um fardo. A crítica central é
simples: a decisão foi unilateral. Esqueceu-se de combinar com os russos — ou
melhor, com os Comerciários ou seus representantes. Sem o aval da categoria e
sem um acordo coletivo que garanta a legalidade e a compensação dessas horas, o
"dinamismo econômico" pode ter efeito contrário.
Foi nesse vácuo de diálogo
que o Partido dos Trabalhadores (PT) de Arcoverde inseriu uma pergunta
cirúrgica em sua nota de repúdio: essa extensão de horário virá acompanhada de
novas contratações ou servirá apenas para "espremer" o quadro atual
de funcionários?
Aí reside o "X" da
questão. Se a ampliação do horário até às 20h significasse a abertura de um
turno extra, com a contratação de temporários, a medida seria um presente de
Natal antecipado para os desempregados da cidade. Seria benéfico, geraria renda
e oxigenaria a economia. No entanto, o temor — legítimo e ecoado pelo PT e
pelos trabalhadores nas redes — é que a "festa" do comércio seja
custeada pelo suor de quem já cumpre suas 8 horas diárias.
Não aceitar que o
crescimento se construa sobre a precarização não é ser contra o progresso; é
ser a favor da dignidade. O comércio de Arcoverde precisa, sim, vender. Precisa
faturar e recuperar tempos perdidos. Mas o cliente que compra o presente de
Natal não quer levar para casa, na sacola, a invisibilidade do cansaço alheio.
Para que as luzes da Coronel Antônio Japiassu brilhem de verdade até às 20h, é preciso mais do que uma nota oficial das entidades patronais. É preciso acordo, é preciso lei e, acima de tudo, humanidade. Sem isso, o "horário estendido" será apenas um eufemismo para exaustão do trabalhador, e o Natal, ao invés de iluminado, ficará um tom mais cinza para quem faz a roda da economia girar.
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