"Teria que ter
inquérito para saber o que se passou. As pessoas só eram soltas, liberadas,
depois de confessarem e fazerem acordo. Isso é uma vergonha e nós não podemos
ter esse tipo de ônus. Coisa de pervertidos. Claramente se tratava de prática
de tortura usando o poder do Estado", afirmou.
O decano do STF afirmou que,
após ler o livro escrito pelo empresário Emilio Odebrecht, ficou convencido de
que a força-tarefa de Curitiba forçou delações premiadas.
"São páginas que
envergonham a Justiça. O que se fez em Curitiba, nessa chamada República de
Curitiba, com a Lava Jato, nós temos que fazer um escrutínio muito severo,
porque se trata de algo extremamente grave", seguiu o ministro.
Gilmar afirmou ainda que,
embora os nomes mais conhecidos da operação tenham deixado as funções, suas
condutas deveriam ser investigadas para evitar excessos no futuro. O ex-juiz
Sérgio Moro, responsável pelos processos da Lava Jato no auge da investigação,
e o ex-procurador da República Deltan Dallagnol, que foi coordenador da
força-tarefa de Curitiba, são hoje respectivamente senador e deputado.
"É uma vergonha. Eu
acho que o CJF (Conselho da Justiça Federal) deveria investigar, a despeito
deles terem deixado já as funções, porque se trata de corrigir para que isso
não mais se repita", defendeu o decano do STF.
Em entrevista ao programa
Roda Viva, da TV Cultura, na noite desta segunda-feira, 8, Gilmar Mendes já
havia atacado a operação. Ele afirmou que Curitiba foi o 'germe do fascismo' e
ajudou a eleger o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) em 2018.
Enquanto a entrevista ainda
ocorria, Moro reagiu às declarações do ministro. Nas redes sociais, o senador
afirmou que o decano do STF tem 'obsessão' por ele. "Combati a corrupção e
prendi criminosos que saquearam a democracia. Não são muitos que podem dizer o
mesmo neste País", escreveu.
O Movimento Curitiba Contra
Corrupção, criado na esteira da operação e responsável por organizar diversas
manifestações de apoio à Lava Jato, divulgou um manifesto de repúdio ao
ministro. O texto afirma que a vitória de Bolsonaro é resultado da corrupção de
'partidos que aliados ao PT, surrupiaram o erário durante anos na certeza da
impunidade'.
Estas não são as primeiras
críticas públicas de Gilmar Mendes à Operação Lava Jato. O ministro já
manifestou, em outras ocasiões, divergências profundas aos métodos da
força-tarefa.
Em entrevista ao Estadão, em
novembro de 2021, o decano do STF afirmou que Moro e Dallagnol usaram os cargos
para fazer 'militância política'.
Os ataques também apareceram
no julgamento que declarou o ex-juiz parcial para julgar o presidente Luiz
Inácio Lula da Silva (PT).
"O combate à corrupção é digna de elogios. Mas o combate à corrupção deve ser feito dentro dos moldes legais. Não se combate crime cometendo crime", disse Gilmar na ocasião. "Não se pode permitir fazer política por meio da persecução penal."
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