Polícia Civil
descobriu que políticos e secretários do governo estadual ajudaram o
ex-prefeito de Catende, Otacílio Alves Cordeiro (PSB), a omitir que a
tornozeleira eletrônica utilizada por ele durante a prisão domiciliar foi
trocada mesmo sem apresentar defeito. O ex-chefe da administração desse
município da Zona da Mata Sul de Pernambuco foi um dos presos da Operação
Tsunami, deflagrada em junho de 2016, e deixou de cumprir a determinação
judicial para usar o dispositivo de monitoramento, segundo a corporação.
Durante o período
da operação, Otacílio foi acusado pela Polícia Civil de ter desviado R$ 15
milhões de contratos de licitações. Na época, os policiais encontraram, na casa
do prefeito e no posto de gasolina do filho dele, armas e R$ 1 milhão.
Também foram apreendidos documentos de operações bancárias. Ao receber voz de
prisão, o político passou mal e foi socorrido para um hospital no
Recife em uma ambulância.
Depois de ser preso,
Otacílio Alves Cordeiro passou 19 dias no Centro de Observação e Triagem
Professor Everaldo Luna (Cotel), em Abreu e Lima, no Grande Recife. De acordo
com a defesa dele, o ex-gestor do município de Catende tinha problemas de
saúde, era idoso e podia esperar o julgamento do processo em prisão domiciliar.
Com o pedido acatado pela Justiça, Otacílio seguiu para casa com uma
tornozeleira eletrônica, para ser monitorado pela Secretaria Executiva de
Ressocialização (Seres).
De acordo com um
documento da Seres, a tornozeleira eletrônica usada pelo ex-prefeito estava sem
o sinal de localização no dia 5 de julho porque Otacílio não estaria carregando
a bateria do equipamento. No dia 6 do mesmo mês, ele foi chamado ao Centro de
Monitoramento de Reeducandos, no Recife, e foi advertido sobre as violações nas
regras de monitoramento.
No mesmo documento
da Seres, o secretário executivo de ressocialização, Cícero Márcio, afirmou
que, apesar de não haver nenhum defeito na tornozeleira eletrônica, foi
realizada a troca do equipamento por uma questão administrativa. Dessa forma,
Otacílio voltou para casa com um novo dispositivo. No dia 13 de julho, segundo
a Seres, o novo equipamento deixou de funcionar e, por 20 minutos, o
ex-prefeito não foi localizado. Diante disso, a prisão domiciliar foi revogada
e ele voltou para o Cotel.
Com a chegada
desses documentos ao Fórum Thomás de Aquino, no Recife, a Polícia Civil
descobriu a interferência de políticos e secretários do governo a favor do
ex-prefeito de Catende. No inquérito policial, o filho de Otacílio, Paulo
Cordeiro, pediu ao secretário de Justiça e Direitos Humanos de Pernambuco,
Pedro Eurico, um ofício dizendo que houve a troca da tornozeleira. O documento,
no entanto, não saiu da forma desejada pelo parente do ex-gestor.
Ainda no inquérito
da Polícia Civil, o secretário executivo de Ressocialização, Cícero Márcio de
Souza Rodrigues, disse que não atendeu ao pedido de Paulo Cordeiro, mas depois,
a pedido de Pedro Eurico, retirou a frase que “desagradava o ex-prefeito de
Catende”.
Em depoimento,
Cícero Rodrigues afirmou que ele e Pedro Eurico chegaram a um consenso para
retirar a frase “apesar de não haver nenhum defeito técnico, por uma questão de
rotina administrativa, foi realizada a troca de equipamento de monitoramento”.
Eles também concordaram que o novo ofício teria a mesma data do primeiro
documento, emitido em 15 de julho de 2016. Do G1