Se antes as denúncias
surgiam esporadicamente, agora viraram rotina. Basta uma busca rápida na
internet para encontrar casos semelhantes divulgados em sites como G1, NE10 e
blogs regionais que registram todos os dias queixas de pacientes que esperam,
esperam e esperam… como se o tempo do sofrimento fosse tão elástico quanto o
descaso estatal.
E então voltamos a
Arcoverde, onde a crônica da precariedade ganhou mais um capítulo — desses que
ferem o coração da gente. Na última sexta-feira, 14, o pastor Diógenes Dionízio,
52 anos, seguia de motocicleta para a igreja no distrito de Rio da Barra, em
Sertânia, quando teve a vida interrompida por um acidente com uma vaca na
PE-287. Foi socorrido pelo SAMU, levado ao Hospital Municipal de Sertânia e,
pela gravidade do caso, encaminhado ao Hospital Regional de Arcoverde. Lá, a
promessa: “Logo ele vai para o bloco cirúrgico”, disseram à família, já aflita,
enquanto a clavícula quebrada clamava por intervenção urgente.
Mas no HR o tempo tem outra
lógica. O que deveria ser “logo” virou horas. Depois virou dias. E, de repente,
o que era aflição virou denúncia. O filho do pastor, David, relatou na manhã do domingo (16) que o pai
sequer estava recebendo alimentação ou hidratação adequadas. Só depois da
exposição pública é que o mínimo começou a ser feito: deram comida. Sobre a
cirurgia? Ainda não há previsão. “Aguardando intervenção”, informa a equipe
médica, como se o corpo aguentasse viver de espera.
O Hospital Regional de
Arcoverde é um termômetro da saúde de Pernambuco — e o diagnóstico não é bom. A
cada história revelada, percebe-se que o sistema colapsou não apenas por falta
de recursos, mas por falta de comando. Enquanto os pacientes agonizam, a
máquina pública parece girar no vazio. E o que é mais triste: acostumamo-nos a
esse caos, como se fazer um escândalo fosse o único caminho para ter um direito
básico respeitado.
A governadora Raquel Lyra,
que prometeu reorganizar a saúde pernambucana, tem tropeçado justamente no que
deveria ser prioridade absoluta. Quando o básico falha — a alimentação de um
paciente internado, o acesso à cirurgia, o atendimento digno — todo o resto
desmorona, inclusive o teto. O preço dessa condução instável não se paga com
números em planilhas ou discursos em gabinetes. Quem paga é a população. Quem
paga é o pastor Diógenes. Quem paga são as famílias que estendem a noite em
vigília nos corredores que continuam silenciosos, silenciosos demais.
E Arcoverde, mais uma vez,
escuta esse silêncio gritar.
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