Disputa sobre a manutenção
do equipamento revela acordo descumprido desde fevereiro e ação judicial do
Estado contra a Prefeitura, enquanto Victor Marques abandona a discrição para
se firmar como nova voz na gestão João Campos.
RECIFE, PE – O
vice-prefeito do Recife, Victor Marques (PCdoB), surpreendeu o meio político ao
deixar a tradicional discrição de lado e se colocar como uma das vozes mais
contundentes da oposição à governadora Raquel Lyra (PSD). O estopim foi a crise
envolvendo o Túnel da Abolição, localizado no bairro da Madalena, Zona Oeste da
capital, que voltou a registrar problemas graves de alagamento — desta vez,
mesmo sem chuvas.
O episódio, ocorrido na
semana passada, obrigou a interdição da passagem e aumentou o já conhecido caos
no trânsito da região. A situação reacendeu questionamentos sobre a manutenção
da estrutura e abriu espaço para disputas políticas entre o Estado e a
Prefeitura do Recife.
Oficialmente, até fevereiro
deste ano, a manutenção do túnel era atribuição do governo estadual. Na
ocasião, um acordo foi firmado para que a administração passasse à Prefeitura
do Recife. Contudo, a transferência nunca saiu do papel. O governo estadual
alega que a gestão João Campos (PSB) teria criado entraves técnicos para
assumir o equipamento. Já a prefeitura defende que o Estado não cumpriu
integralmente etapas necessárias para a efetiva transferência.
Diante do impasse, o caso
foi judicializado em julho, com o governo de Pernambuco acionando a Justiça
para obrigar o município a assumir a responsabilidade.
Em entrevista à Rádio
Jornal, no último dia 16, Raquel Lyra disse que medidas emergenciais foram
tomadas para mitigar o problema, como a limpeza das bombas e retirada de lixo
acumulado. No entanto, admitiu que a solução definitiva seria repassar a
administração do túnel à prefeitura:
“O futuro deve ser a
gente entregar o túnel para a Prefeitura do Recife. O município pode gerir
melhor porque tem serviço de manutenção e de limpeza urbana”,
declarou a governadora.
Foi nesse cenário que Victor
Marques, conhecido até então por evitar embates públicos, decidiu elevar o tom.
Em vídeo divulgado nas redes sociais, no dia 24, ele criticou diretamente o
governo estadual e anunciou que a prefeitura iria intervir para resolver o
problema, independentemente das pendências judiciais.
“Esse é um túnel que
foi construído e administrado pelo governo de Pernambuco, e as condições aqui
hoje são de falta de cuidado claro. [...] E você me pergunta: ‘de quem é a
culpa?’. Eu não quero saber. A prefeitura vai entrar para resolver o problema.
Se o Estado não teve condições operacionais de cuidar, a prefeitura vai tomar
essa iniciativa”, disse o vice-prefeito.
A fala foi interpretada como
um divisor de águas na postura política de Victor Marques, que deixou de lado o
papel de coadjuvante para se apresentar como protagonista no embate entre as
duas gestões. Analistas avaliam que o movimento pode reposicioná-lo no cenário
político do Recife e consolidar seu nome como voz ativa da administração João
Campos em disputas com o governo estadual.
Nos bastidores, aliados do
prefeito João Campos viram com bons olhos a postura de Marques, entendendo que
ela fortalece a narrativa de que a prefeitura tem atuado para dar soluções
práticas aos problemas urbanos, enquanto o governo Raquel Lyra estaria preso a
disputas burocráticas.
Por outro lado, no Palácio
do Campo das Princesas, a leitura é de que a reação do vice-prefeito tem
caráter político-eleitoral e busca desgastar a imagem da governadora.
Enquanto as versões se confrontam, os moradores da Madalena e de bairros vizinhos seguem à espera de medidas concretas para que o Túnel da Abolição deixe de ser sinônimo de transtorno e insegurança a cada novo episódio de falha estrutural.
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