quinta-feira, 25 de setembro de 2025

Vice-prefeito do Recife rompe silêncio e assume linha de frente contra o governo Raquel Lyra

Disputa sobre a manutenção do equipamento revela acordo descumprido desde fevereiro e ação judicial do Estado contra a Prefeitura, enquanto Victor Marques abandona a discrição para se firmar como nova voz na gestão João Campos.

RECIFE, PE – O vice-prefeito do Recife, Victor Marques (PCdoB), surpreendeu o meio político ao deixar a tradicional discrição de lado e se colocar como uma das vozes mais contundentes da oposição à governadora Raquel Lyra (PSD). O estopim foi a crise envolvendo o Túnel da Abolição, localizado no bairro da Madalena, Zona Oeste da capital, que voltou a registrar problemas graves de alagamento — desta vez, mesmo sem chuvas.

O episódio, ocorrido na semana passada, obrigou a interdição da passagem e aumentou o já conhecido caos no trânsito da região. A situação reacendeu questionamentos sobre a manutenção da estrutura e abriu espaço para disputas políticas entre o Estado e a Prefeitura do Recife.

Oficialmente, até fevereiro deste ano, a manutenção do túnel era atribuição do governo estadual. Na ocasião, um acordo foi firmado para que a administração passasse à Prefeitura do Recife. Contudo, a transferência nunca saiu do papel. O governo estadual alega que a gestão João Campos (PSB) teria criado entraves técnicos para assumir o equipamento. Já a prefeitura defende que o Estado não cumpriu integralmente etapas necessárias para a efetiva transferência.

Diante do impasse, o caso foi judicializado em julho, com o governo de Pernambuco acionando a Justiça para obrigar o município a assumir a responsabilidade.

Em entrevista à Rádio Jornal, no último dia 16, Raquel Lyra disse que medidas emergenciais foram tomadas para mitigar o problema, como a limpeza das bombas e retirada de lixo acumulado. No entanto, admitiu que a solução definitiva seria repassar a administração do túnel à prefeitura:

“O futuro deve ser a gente entregar o túnel para a Prefeitura do Recife. O município pode gerir melhor porque tem serviço de manutenção e de limpeza urbana”, declarou a governadora.

Foi nesse cenário que Victor Marques, conhecido até então por evitar embates públicos, decidiu elevar o tom. Em vídeo divulgado nas redes sociais, no dia 24, ele criticou diretamente o governo estadual e anunciou que a prefeitura iria intervir para resolver o problema, independentemente das pendências judiciais.

“Esse é um túnel que foi construído e administrado pelo governo de Pernambuco, e as condições aqui hoje são de falta de cuidado claro. [...] E você me pergunta: ‘de quem é a culpa?’. Eu não quero saber. A prefeitura vai entrar para resolver o problema. Se o Estado não teve condições operacionais de cuidar, a prefeitura vai tomar essa iniciativa”, disse o vice-prefeito.

A fala foi interpretada como um divisor de águas na postura política de Victor Marques, que deixou de lado o papel de coadjuvante para se apresentar como protagonista no embate entre as duas gestões. Analistas avaliam que o movimento pode reposicioná-lo no cenário político do Recife e consolidar seu nome como voz ativa da administração João Campos em disputas com o governo estadual.

Nos bastidores, aliados do prefeito João Campos viram com bons olhos a postura de Marques, entendendo que ela fortalece a narrativa de que a prefeitura tem atuado para dar soluções práticas aos problemas urbanos, enquanto o governo Raquel Lyra estaria preso a disputas burocráticas.

Por outro lado, no Palácio do Campo das Princesas, a leitura é de que a reação do vice-prefeito tem caráter político-eleitoral e busca desgastar a imagem da governadora.

Enquanto as versões se confrontam, os moradores da Madalena e de bairros vizinhos seguem à espera de medidas concretas para que o Túnel da Abolição deixe de ser sinônimo de transtorno e insegurança a cada novo episódio de falha estrutural. 

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