Coluna da Mara Luquet
no MyNews*
Nesta quarta-feira (10), o
ministro Luiz Fux surpreendeu o meio político e jurídico ao apresentar um longo
voto no Supremo Tribunal Federal que absolveu o ex-presidente Jair Messias
Bolsonaro, o almirante Almir Garnier e condenou o tenente-coronel Mauro Cid
pelo crime de abolição do estado democrático de direito. O texto, denso e
detalhado, foi interpretado por juristas como fruto de um trabalho de meses. “Um
voto dessa envergadura não se improvisa. É claramente pensado, amadurecido e
amparado em sólida construção jurídica”, avaliou um advogado próximo ao
STF.
Nos bastidores de Brasília,
a leitura é de que a decisão teve um alvo além da Corte: a eleição para o
governo ou Senado no Rio de Janeiro em 2026. Fux completará 73 anos no próximo
ano, ficando a dois da aposentadoria compulsória, mas pode antecipar a saída do
Supremo para entrar no jogo eleitoral.
Políticos experientes já
calculavam que seu voto seria diferenciado, justamente por conta dessa
possibilidade. Ainda assim, foram surpreendidos pela contundência e abrangência
da decisão. “Foi mais do que um posicionamento jurídico, foi um ato
político”, resumiu um veterano parlamentar.
Se confirmadas as projeções
de sua candidatura, Fux embaralha completamente o tabuleiro fluminense. Hoje,
Eduardo Paes aparece como favorito, mas a entrada de um ministro do Supremo com
forte capital jurídico que agradou aos bolsonaristas poderia tirar do prefeito
carioca o posto de principal nome da disputa.
No Rio, onde a política é
marcada por escândalos e crises de governabilidade, a figura de Fux pode ser
apresentada como alternativa de renovação, unindo setores do centro e da
direita, além de contar com apoio de elites jurídicas e empresariais.
Para muitos analistas, o
voto desta quarta-feira já não pode ser lido somente como uma decisão judicial.
Foi, também, o primeiro ato de campanha.


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