sábado, 13 de setembro de 2025

Artigo do New York Times destaca diferença entre Brasil e EUA na defesa da democracia

               O jornal americano The New York Times publicou nesta sexta-feira um artigo de opinião que coloca em destaque o recente julgamento brasileiro da chamada “trama golpista”, ressaltando a condenação do ex-presidente Jair Bolsonaro e de outros sete réus por tentativa de golpe de Estado e quatro outros crimes. O texto afirma que o Supremo Tribunal Federal (STF) fez aquilo que, segundo os autores, “os Estados Unidos tragicamente falharam em fazer: levar à justiça um ex-presidente que atentou contra a democracia”.

Assinado pelo professor de Economia da Universidade Johns Hopkins, Filipe Campante, e pelo professor de Governo da Universidade de Harvard e autor do livro Como as democracias morrem (Editora Zahar), Steven Levitsky, o artigo compara a condução do processo brasileiro com a situação política dos Estados Unidos após as eleições presidenciais de 2020. Na ocasião, o ex-presidente Donald Trump questionou os resultados que o deram como vencedor a Joe Biden, culminando na invasão do Capitólio por seus apoiadores em janeiro de 2021.

“Os paralelos são impressionantes. Ambos elegeram presidentes com instintos autoritários que, após perderem a reeleição, atacaram instituições democráticas”, afirmam Campante e Levitsky. Entretanto, os autores enfatizam que, diferentemente de Bolsonaro, Trump “não foi enviado para a prisão, mas de volta à Casa Branca”, e obteve sucesso na eleição presidencial do ano passado, derrotando a ex-vice-presidente Kamala Harris.

O artigo do NYT também aponta que Bolsonaro teria seguido a “cartilha de Trump” ao questionar a integridade das eleições de 2022 e atacar autoridades brasileiras, afirmando que só poderia perder por fraude. O texto ressalta ainda que a invasão de 8 de janeiro de 2023 no Brasil envolveu aliados militares de Bolsonaro, tornando o episódio mais grave que a invasão americana. Os autores mencionam o plano “Punhal Verde e Amarelo”, que previa o assassinato de figuras políticas como Lula, Alckmin e Moraes.

Segundo os especialistas, as diferenças entre Brasil e EUA são marcantes: enquanto nos Estados Unidos os mecanismos constitucionais demoraram a agir contra Trump e acabaram permitindo que ele se mantivesse fora da responsabilização, o Brasil reagiu com vigor. “Tendo vivido sob uma ditadura militar, autoridades públicas brasileiras perceberam a ameaça à democracia desde o início do governo Bolsonaro. Muitos juízes e líderes do Congresso viram a necessidade de defender energicamente as instituições democráticas do país. Como disse o ministro Moraes a um de nós: ‘Percebemos que poderíamos ser Churchill ou Chamberlain. Eu não queria ser Chamberlain’”, relatam os autores.

O artigo também destaca o papel do Tribunal Superior Eleitoral (TSE) na garantia da integridade das eleições de 2022, citando medidas como o inquérito das Fake News, a neutralização de barreiras policiais ilegais e a divulgação imediata dos resultados. Segundo os autores, mesmo políticos da oposição reconheceram rapidamente a vitória de Lula, contrastando com a demora e os obstáculos enfrentados nos EUA.

“Diferentemente dos Estados Unidos, portanto, as instituições brasileiras agiram de forma vigorosa e, até agora, eficaz, para responsabilizar um ex-presidente por tentar reverter uma eleição. É precisamente a eficácia dessas instituições que colocou o país na mira do governo Trump”, escrevem Campante e Levitsky. Eles concluem reforçando que, apesar de desafios e falhas, a democracia brasileira “está hoje mais saudável do que a americana” e que os EUA poderiam aprender com a experiência do Brasil na proteção de suas instituições democráticas. 

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