O silêncio solene do salão
nobre foi entrecortado por lágrimas e abraços apertados. Entre os vitrais
coloridos que tantas vezes refletiram aplausos à arte, refletiu-se desta vez a
dor de uma despedida precoce, mas também o legado de uma artista que viveu com
intensidade, generosidade e autenticidade.
No fim da tarde, o cortejo
seguiu para a capela ecumênica do Crematório e Cemitério Vertical da
Penitência, no Caju, em uma cerimônia íntima, reservada aos mais próximos. Lá,
Preta Gil foi cremada, encerrando um ciclo que começou em 2003, quando trocou a
publicidade pela música e lançou seu primeiro álbum, “Prêt-à-Porter”.
A partir dali, construiu uma
carreira vibrante, que não se prendeu a rótulos. Preta foi do pop ao samba, do
trio elétrico à televisão, das novelas à criação de eventos icônicos como o
Baile da Preta. Também brilhou no GNT com o programa Vai e Vem e em parcerias
inesquecíveis com o filho Fran Gil, como a música “Meu Xodó”. No palco ou fora
dele, sua mensagem era uma só: liberdade, respeito, amor e verdade.
Filha de Gilberto Gil e Sandra Gadelha, Preta carregava em si o DNA da música popular brasileira. Cresceu entre acordes, afetos e lutas. Era afilhada de Gal Costa, irmã de outros seis filhos de Gil, mãe dedicada de Fran e avó apaixonada de Sol de Maria, de 9 anos. Sua família sempre foi seu porto seguro — e também inspiração para seguir firme nos momentos mais difíceis.
Ao tornar público o
diagnóstico de câncer em janeiro de 2023, Preta escolheu caminhar com o Brasil
ao seu lado. Em suas redes, revelou o lado humano da doença, sem esconder as
dores, os medos e as pequenas vitórias. Sua coragem em viver com dignidade até
o fim transformou seguidores em admiradores ainda mais fiéis.
Preta Gil não foi apenas uma
artista. Foi uma mulher à frente de seu tempo. Uma voz que enfrentou
preconceitos, rompeu padrões, abriu caminhos e mostrou que vulnerabilidade
também é força. Que ser quem se é, com todas as cores e curvas da vida, é um
ato político e revolucionário.
Ela se foi, mas a sua luz —
intensa, irreverente e cheia de vida — continuará ecoando por gerações. Nos
palcos, nas ruas, nos carnavais, nos lares de tantas mulheres que ela inspirou
a viver sem medo.
Preta Gil vive. Em cada nota de “Sinais de Fogo”, em cada sorriso solto ao som de “Só o Amor”, em cada passo firme de quem aprendeu com ela que é possível ser grande, mesmo diante da dor.
👉 Acompanhe mais notícias e curta nossas redes sociais:
Nenhum comentário:
Postar um comentário