Por Igor Maciel
A melhor forma de
desarticular um adversário é se antecipar a ele. Sun Tzu considerava a
antecipação uma das principais estratégias numa guerra. Quem chega primeiro,
dizia ele, conhece melhor a natureza do terreno e vai estar mais descansado
para o combate.
Já foi dito aqui como o
governo Lula (PT) poderia se antecipar e encerrar as discussões sobre o projeto
de anistia para os presos do 8/1. Basta se antecipar e liderar um movimento
para que as penas sejam revistas e para que uma dosimetria individualizada e
justa possa ser utilizada nesta revisão.
Isso não foi feito ainda
porque, segundo o que está nos bastidores, o governo teme irritar Alexandre de
Moraes. Então, precisamos falar sobre Alexandre de Moraes.
Erros
Não está muito certo em que
momento o ministro do STF foi proclamado senhor absoluto dos destinos ao ponto
de assustar uma República inteira, da oposição ao governo, passando pelo
centrão. Moraes começa, a cada dia, a se parecer mais com Sergio Moro, e isso
não é um bom sinal, nem para o Brasil e nem para ele próprio.
Voltando à Arte da Guerra,
Sun Tzu dá algumas dicas de erros que os generais cometem em guerras. Fala
sobre o “combate desnecessário, que desgasta”, sobre a “ilusão da vitória a
qualquer custo” e “o ego como maior inimigo”.
O respeitável ministro
Moraes anda cometendo os três. Isso é perigoso para ele, mas também pode
prejudicar o país.
O homem…
O combate desnecessário
acontece todos os dias, desde que o ministro foi alçado por si mesmo, com o
silêncio dos inocentes, ao posto de guardião mor da democracia brasileira.
Vocês já pararam para pensar
sobre o problema das coisas? Geralmente nos equivocamos e confundimos problema
com solução. Por exemplo, a solução dos óculos é fazer enxergar. O problema dos
óculos é o que enxergamos. O mesmo vale para os holofotes. A solução deles é
iluminar. O problema é o que eles evidenciam.
Moraes engendra combates
desnecessários todos os dias para manter-se em evidência, sob a luz.
…e o fim
Ficar o tempo todo exposto
sob os holofotes é desgastante para ele, Moraes, mas desgasta também aquilo em
que as pessoas confiaram tendo ele como defensor. Se ele posa aos holofotes
defendendo a democracia, caso seja desacreditado, como foi Sergio Moro, a
democracia também sofrerá.
O ego é o maior inimigo
daqueles que detém a confiança pública no desempenho de uma função. É ele, o
ego exacerbado, que transforma justiça em justiçamento, acreditando que, mesmo
não ignorando a lei, pode aplicar-lhe alguns dribles em nome do benefício
comum.
Sergio Moro se divertia
fazendo isso, enxergando a si mesmo como um super-herói de quadrinhos enquanto
combatia o crime. No fim, prejudicou-se (e isso é um problema dele), mas também
prejudicou toda a operação Lava Jato e o trabalho que ela vinha desenvolvendo.
Sofreu Moro, comemoraram os corruptos.
O homem e sua finalidade
quando estão muito ligados, perecem juntos.
Qualquer custo
A vitória a qualquer custo é
a mesma que Sergio Moro tentou, e sabe-se como aquilo terminou. Imagine o ocaso
do combate à corrupção aplicado à tal “defesa da Democracia” encampada por
Moraes.
Com Moro desmoralizado,
soltaram-se ladrões do dinheiro público. Com Moraes desmoralizado, como ficará
a democracia?
Então o ministro precisa ser
protegido? Pelo contrário. Ele precisa que lhe tirem a outorga de herói, precisa
voltar para a planície e voltar a ser “apenas” mais um dos 11 ministros do
Supremo Tribunal Federal. Baixem a luz do holofote dele, pelo bem de todos, até
dele próprio.
Luz
Numa república, quando um
indivíduo torna-se senhor do destino de todos, sendo temido até pelos iguais,
só há dois resultados possíveis: caem todos aos seus pés ou cai todo o
país num abismo. A forma mais eficiente de proteger Moraes enquanto são
protegidas as instituições republicanas é reduzir a atuação de seu poder.
E isso precisa ser feito,
desde já, com uma dosimetria melhor aplicada das penas impostas aos envolvidos
no 8/1. É um começo. Que se faça isso logo, dentro do STF, com apoio do Poder
Executivo e empenho do Legislativo ajuizado (ainda a maior parcela das casas).
Tomar a frente dessa ação, garantindo que a medida não seja usada para livrar aqueles que realmente conspiraram para um golpe, reduzirá o espetáculo do ministro Moraes, protegerá a república e até o protegerá também. Do JC
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