Para celebrar e difundir este legado cultural, entre os dias 22 e 26 de agosto, acontece o projeto “PE em Moçambique” no qual integrantes do grupo farão uma residência artística no país africano, estabelecendo um intercâmbio com a Associação Cultural Hodi Maputo Afro Swing para uma série de atividades.
Para representar o trupé em
Moçambique, os bailarinos do Coco Raízes de Arcoverde Dayane e Kell Calixto
participarão, ao longo de uma semana, de uma residência artística e de
apresentações com a Banda e a Companhia de Canto e Dança Hodi, de Maputo. Os shows
irão evidenciar o encontro entre culturas e celebrar as particularidades e
semelhanças entre os artistas brasileiros e moçambicanos e acontecem na
Associação Cultural Hodi Maputo Afro Swing e no Festival Nacional de Cultura.
O Grupo Hodi é reconhecido
por preservar ritmos tradicionais moçambicanos e por criar fusões inovadoras
com gêneros musicais como reggae e jazz, mantendo firmes suas raízes nos ritmos
e instrumentos tradicionais. Com mais de 80 artistas, a Hodi desenvolve
espaços de cultura nos bairros Polana Caniço, na capital de Moçambique, focando
ainda na profissionalização dos agentes culturais da região e em intercâmbios
com centros culturais de vários países. Sua banda já trabalhou com artistas
como Leon Mobley (EUA), Timbuktu (Suécia), Mingas (Moçambique), Harlem Hot
Shots (Suécia), Lenna Bahule (Moçambique/Brasil), Matuto (EUA), Sol Homar
(Colômbia), Rhodalia Silvestre (Moçambique), dentre outros.
“É a primeira vez que temos
contato com um grupo que traz o trupé, e esperamos aprender muito com os
artistas, assim como partilhar a nossa experiência e encontrar danças
moçambicanas que tenham uma batida própria. Com este intercâmbio esperamos,
mais uma vez, tornar firme a ponte cultural entre Moçambique e o mundo e, neste
caso específico, o Brasil. Tratando-se de dois países com uma forte ligação
histórica e cultural, será uma grande reafirmação e desta vez com a música,
dança e oficinas”, pontua Elias José Manhiça, diretor geral da Hodi.
A colaboração entre o Coco
Raízes de Arcoverde e os artistas moçambicanos resultará em um espetáculo
conjunto que será apresentado para a comunidade da Associação Hodi, assim como
no Festival Nacional de Cultura, principal expoente da arte do país que reúne
cerca de mil artistas de diferentes linguagens. Este último contará também com
a presença virtual de todo o restante do grupo, diretamente de Arcoverde.
Segundo Kell Calixto, que, além de dançarino, também é multi-instrumentista em
percussão e vocalista do Coco Raízes de Arcoverde, as expectativas para essa
viagem são muito altas.
O artista, que dança coco
desde os 3 anos de idade, cresceu em uma família imersa nessa tradição popular.
Aos 12 anos, ele começou a acompanhar o grupo em viagens, participando de
diversas oficinas e espetáculos. Agora, aos 26 anos, Kell compartilha que,
apesar de já ter percorrido todo o território brasileiro, esta será a sua
primeira incursão internacional. Embora o grupo já tenha visitado a França e o
Canadá, essas oportunidades ocorreram quando o artista ainda era jovem demais
para acompanhá-lo.
“Dessa vez iremos só eu e
minha tia Dayane, que dança comigo. As expectativas estão altas, pois iremos
representando todo o grupo. E eu sou uma das gerações mais novas. É um grande
desafio para nós dois”, explica.
Kell conta que sempre se
interessou pelas musicalidades africanas e suas formas de se dançar, o que
aumenta ainda mais as suas expectativas. “Acredito que será muito massa essa
experiência de estar lá e poder ensinar a nossa cultura, de Arcoverde, e
aprender também. Já consigo imaginar como será linda e interessante a junção do
coco com o estilo da música e da dança africana. Espero aprender muito e estou
indo completamente disposto a ensinar tudo o que foi criado nessa minha nova
geração”.
Segundo Kell, é de suma
importância difundir a cultura do sertão pernambucano, que carrega uma riqueza
intrínseca e é uma dança enraizada no tempo, com origens africanas que contam
toda a história de sua ancestralidade. Ele prossegue: “É um legado pelo qual
meu tio, o mestre Lula Calixto, lutou bastante. Ele montou esse grupo e fez o
resgate dessa tradição. Então, para mim, é de extrema relevância sair do
Brasil, do sertão de Pernambuco e minha cidade natal, Arcoverde, e viajar para
o outro lado do mundo, com o propósito de ensinar tudo pelo que meu tio lutou
tão arduamente para que não morresse”, conclui.
Kell e Dayane estão
compenetrados no estudo das criações do Grupo Hodi, seu parceiro de
intercâmbio, e até mesmo incorporaram os passos característicos do samba de
coco em uma das músicas do grupo moçambicano. Dayane Calixto destaca que esta
representa uma chance única para explorar novas vivências, romper com a rotina
e estabelecer um cenário propício para experimentar artisticamente culturas
distintas, ao mesmo tempo em que preservam suas próprias raízes. “A relevância
aqui é levar o coco, nossa cultura, nossas raízes. Explorar novos lugares,
culturas e interagir com diferentes povos”, ressalta a dançarina.
OFICINA — Em
Moçambique, Dayane e Kell vão compartilhar seus conhecimentos e vivências,
apresentando o trupé também de forma didática, através de uma oficina na Escola
Primária Matchik Tchik, no dia 24 de agosto. A instituição é uma referência em
Maputo entre as escolas de método Montessori, baseado na educação sensorial e
sinestésica, relacionada à propriocepção ou sensibilidade profunda.
As aulas apresentarão às
crianças a força e pluralidade do samba de coco, uma expressão cultural nascida
da diáspora africana e reflexo da resistência e criatividade do povo preto
brasileiro. Promovendo a tradição e
identidade arcoverdense, a oficina traz uma leitura da
pisada do tamanco desde os primeiros passos até o repicado frenético da batida
no tablado, além de apresentar os instrumentos musicais utilizados no
coco.
Com eles, os bailarinos
levarão os tamancos criados pelo Mestre Assis Calixto. Símbolos do trupé, os
tamancos serão apresentados não só em seu aspecto prático, mas também como
objetos atravessados pelo talento e as subjetividades de uma comunidade que
irradia cultura e conhecimento. Ao estabelecer o diálogo diaspórico entre
Pernambuco (PE) e África, suas especificidades e confluências, o projeto “PE em
Moçambique”, de difusão internacional do grupo Coco Raízes de Arcoverde em
Moçambique, cria as condições para a valorização e perpetuação de ambas as
culturas.
Todas as experiências das
atividades realizadas em Moçambique serão cuidadosamente registradas em
material audiovisual, resultando em um documentário etnomusicológico. Este
filme, além de ser disponibilizado gratuitamente em um canal online e divulgado
por meio de assessoria de mídia, também servirá como ferramenta de trabalho
quando o grupo retornar a Pernambuco. O documentário será exibido em diversas
escolas, permitindo que o público local compartilhe dessa rica experiência
cultural.
O projeto “PE em Moçambique” conta com produção de Cabra Fulô e Buruçu, com incentivo do Funcultura, Fundarpe, Secretaria de Cultura e Governo de Pernambuco.
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“PE em Moçambique”
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