Em Pernambuco, o retrato é
cristalino: mais de 65% da população é negra, segundo o Censo de 2022. São
55,3% de pardos, 10% de pretos. No Brasil, o número permanece expressivo: 56%
da população é negra. Em teoria, somos um país negro. Em prática, insistimos em
agir como se não fôssemos.
Os números não mentem, mas
revelam verdades incômodas.
Apesar da maioria evidente,
ainda vivemos em um estado onde 92,6% das mortes em intervenções policiais, em
2024, foram de pessoas negras. É a estatística que grita enquanto muitos
escolhem o silêncio. É o lembrete de que a cor da pele ainda pesa, ainda
decide, ainda determina quem vive e quem morre.
E quando o debate se desloca
para a política, o espelho fica ainda mais distorcido.
No Congresso Nacional, a
presença de parlamentares negros não chega a 30% das cadeiras — e isso num país
onde os negros são maioria. Na Câmara dos Deputados, houve crescimento, é
verdade, mas tímido, insuficiente, incapaz de acompanhar o tamanho da população
que representa. No Senado, a sub-representação persiste. Avanços existem, mas
são gotas num oceano de ausência.
Mesmo em 2024, quando o
Brasil viu o maior número de vereadores negros eleitos da história (45,8%), a
verdade aparece nas entrelinhas: a porcentagem de candidatos negros superou a
de brancos, mas a taxa de sucesso nas urnas foi menor. Mais negros concorrendo,
menos negros vencendo. O sistema não é neutro — nunca foi.
E Pernambuco, tão negro, tão plural, tão rico de identidades, ainda convive com Câmaras municipais que não refletem sua gente. Um exemplo emblemático mora aqui perto: a Câmara de Arcoverde não tem nenhum parlamentar negro. Não porque exista qualquer proibição — mas porque o eleitor não elegeu, ou porque quem se apresentou não encontrou espaço, apoio ou financiamento suficientes para romper a barreira invisível que sempre existiu.
O que isso diz sobre nós?
O que diz sobre a democracia
que celebramos, mas que continua incompleta?
O que diz sobre o país que
se afirma miscigenado, mas que continua negando oportunidades, voz e poder à
maioria de sua população?
É confortável acreditar que
estamos avançando. E estamos — mas devagar demais para um país que ainda
enterra seus jovens negros em números que fariam qualquer nação parar. Devagar
demais para um estado que se autoproclama diverso, mas que ainda não se enxerga
dentro de suas próprias instituições.
O Dia da Consciência Negra
não é sobre celebrar conquistas — é sobre lembrar das ausências.
É sobre encarar o espelho e
admitir: somos um Brasil negro representado por um Brasil que insiste em ser
branco.
A pergunta que fica é
simples, mas profunda: até quando?
Porque enquanto a cor da
maioria segue sem refletir no poder, não há espelho capaz de esconder a
desigualdade que nos atravessa — e insiste em permanecer.
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