"Eu dizia a ele:
‘padre, o senhor é representante de Cristo, pare com isso. O senhor não quer
sua santidade? Então busque ela. Eu sou seu filho'", declarou o
ex-funcionário.
A denúncia do homem é um
dos cinco inquéritos abertos contra o líder e criador da Fundação
Terra. O religioso está preso preventivamente e internado em estado
grave num hospital no Recife, com "princípio de acidente vascular
cerebral (AVC)".
A personal stylist Sílvia
Tavares de Souza foi a primeira a denunciar ter sido estuprada, em maio deste
ano. A TV
Globo falaram com três das cinco vítimas, cujos relatos compartilham
semelhanças entre si.
O ex-funcionário disse que
considerava Airton Freire como um pai. Em nome da relação de afeto construída,
tentava mudar a conduta do religioso como uma espécie de "missão
pessoal".
O homem contou que
confrontava as atitudes do Padre Airton, mas que era manipulado a repetidamente
dormir na "casinha", um casebre de telhado de palha onde o religioso
dormia, e onde as vítimas afirmam ter havido os estupros.
O ex-funcionário disse ter
sido convencido pelo padre de que era uma espécie de "guardião
espiritual". "Ele usava muito essa questão de guardião. [...] Ele
sabia da minha curiosidade nessa questão espiritual. [..] Ele dizia que
apanhava do diabo, amanhecia com umas ronchas", contou.
Ele afirmou, ainda, que os
abusos aconteceram por muito tempo. "Ele conseguia me manipular, de certa
forma. Ele fazia sexo oral em mim, fez várias vezes. Quando era no outro dia de
manhã, ficava aquela perturbação na minha cabeça”, disse.
Em uma das vezes, o homem
disse ter sido dopado e estuprado enquanto estava inconsciente.
"Teve uma noite que ele
colocou alguma coisa na garrafa d'água que ficava em cima de uma mesinha [...].
Peguei a garrafa umas 11 e pouca da noite. Tomei a água e deitei na rede.
Quando foi [por volta das] 5 e pouca da manhã, eu me acordei numa cadeira, que
tem próximo da mesinha, só de cueca. E senti meu corpo, né? A gente sente o
corpo da gente diferente", declarou.
Ainda segundo o
ex-funcionário, com a desculpa de que precisava do homem para se sentir
protegido na "casinha", o sacerdote teria criado uma rotina de
abusos.
"Ele usava muito o
argumento de que, quando era pequeno, só dormia apertando uma esponja, que era
para pegar meus órgãos. Ele dizia: 'vai, eu pego dez vezes e você pega dez
vezes em mim'", afirmou.
O homem também disse que o
padre tentava fazer com que ele dormisse nu. "[Quando eu] deitava de
roupa, ele dizia que era uma falta de respeito. Eu tinha que tirar a roupa. Ele
só dorme nu. [...] Teve uma noite que ele chegou a gozar, a palavra certa é
essa, gozar na minhas costas", declarou.
De acordo com o
ex-funcionário, ele preferiu juntar evidências contra o Padre Airton, para
evitar que o religioso o afastasse do local antes dele reunir provas.
"Tenho mensagens dele pedindo para me masturbar. Tenho bastante
coisa", contou a vítima.
"Ele estava na Terra
Santa uma vez, no Rio Jordão, onde Jesus foi batizado. Ele mandou 18 vídeos
pornô para eu assistir e analisar a raiz da coisa. Me masturbar e mandar para
ele, que era para ele me purificar. Eu dizia: ‘pai, não precisa, posso rezar
por mim. Não precisa fazer isso’. Era como se entrasse num ouvido e saísse no
outro", afirmou.
De acordo com o denunciante,
todas as provas foram entregues às autoridades e agora fazem parte do processo,
que corre em segredo de justiça.
Defesa
Por meio de nota, a defesa
do padre Airton afirma que ele reitera ser "inocente" das acusações.
Os advogados dizem que vão tentar conseguir um habeas corpus para o padre, e
afirmam não terem tido acesso aos autos da investigação.
Eles também consideram que a
prisão preventiva de Padre Airton não tem pré-requisitos legais, e que ela
"contraria todas as previsões da legislação brasileira e até do direito
internacional". Saiba mais em G1PE
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