
O
Ceará voltou a ser alvo de ataques criminosos oito meses depois da onda
que resultou em mais de 280 ações e que fez agentes da Força Nacional
de Segurança serem deslocados para o estado. Desde
a noite de sexta-feira (20), ao menos 30 ataques foram cometidos novamente
contra ônibus, carros em concessionárias, caminhões, prédios públicos e
privados e torre de telefonia. Eles ocorreram na capital, na região
metropolitana e no interior. Até o momento dez pessoas foram detidas sob
suspeita de participação nos atos.
O
mais recente ocorreu na manhã desta terça-feira (24). Uma concessionária teve
carros incendiados em área nobre de Fortaleza –ao menos 16 veículos acabaram
atingidos. O alvo é diferente do das ações de janeiro, que se concentraram, na
maioria, no interior e em regiões periféricas da capital.
Pelo
menos dez ônibus e micro-ônibus já foram incendiados em todo o estado desde
sexta (20). Devido aos ataques, um quarto da frota dos coletivos ficou nas
garagens nesta terça (24), e parte da que está em circulação, em linhas
consideradas mais perigosas, está sendo escoltada por policiais.
Pela
manhã, havia filas e espera em todos os terminais da capital cearense. Alguns
ônibus encostavam vazios, mas precisavam aguardar a chegada de carro de polícia
para fazer a escolta. Outros ônibus chegavam ao terminal e aos pontos cheios e
não paravam para o embarque de novos passageiros.
A
Secretaria de Segurança e Defesa Social solicitou que policiais militares de
férias ou de folga se apresentem para ajudar no patrulhamento das ruas. São
alvos de ataques também caminhões de lixo e carros de concessionárias de
energia e água e esgoto.
O
governo do Ceará atribui o movimento a membros de facções criminosas por motivo
semelhante ao de janeiro: o endurecimento de regras em unidades prisionais. Um
áudio vazado do Secretário de Segurança Penitenciária, Luís Mauro Albuquerque
Araújo, atribuiu os ataques a uma das três facções que atua com mais força no
Ceará, a Guardiões do Estado (GDE). A inteligência da polícia, entretanto,
ainda apura se há, como em janeiro, uma coalizão de forças entre a GDE, o PCC e
o Comando Vermelho para os novos ataques.
Nesta
terça, a Secretaria de Segurança Penitenciária (SAP) anunciou a
transferência de 257 presos ligados à GDE de presídios de Pacatuba, Quixadá e
Aquiraz, no interior. Segundo fontes do governo estadual, foi encontrado com
presos bilhete com um "salve" (como são conhecidos os recados de
líderes das facções a seus membros) para que os ataques ocorressem em
"comércios, shoppings, postos de gasolina, supermercados e concessionárias".
Há preocupação de que, desta vez, prédios privados, com maior circulação de
pessoas, sejam alvos preferenciais.
Ao
assumir o segundo mandato, em janeiro, Camilo Santana criou a Secretaria de
Administração Penitenciária justamente para endurecer as regras nas unidades
prisionais. O governador identificou que boa parte da violência do estado tinha
como fator regalias que alguns presos tinham nas unidades e a facilidade de
contato com o exterior.
Alguns
líderes de facções, após os ataques do começo do ano, foram transferidos para
presídios federais. Uma tentativa de fuga, registrada há algumas semanas, pode
ter sido o estopim para os novos ataques já que após isso houve ainda mais
endurecimento de algumas unidades para coibir novas tentativas.
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