O
jornalista Magno Martins publica em seu blog de hoje mais uma matéria da
coletânea intitulada “Fenômenos Eleitorais” e destaca uma arcoverdense da
política, a vereadora socialista Célia Cardoso (PSB), que elegeu-se pela oitava
vez e prepara-se para se eleger mais uma vez presidente da Casa James Pacheco
com apoio de vereadores governistas e oposicionistas. Confira a matéria do
jornalista Magno Martins abaixo:
Vereadora pioneira emplaca 8º mandato
ARCOVERDE
(PE) – Há quase três décadas, quando no Nordeste falar em mulher na política
era piada pronta, especialmente pelo acentuado machismo observado na vida
pública, em Arcoverde, a 250 km do Recife, a chamada porteira do Sertão, a
destemida Célia Almeida, então com 32 anos, filiada ao PTB do saudoso Getúlio
Vargas, quebrou o tabu elegendo-se vereadora. Deixou muitos concorrentes
adeptos da velha política coronelista para trás respaldada pelo voto
democrático de 651 arcoverdenses.
Decorridos
28 anos do seu primeiro mandato, ao emplacar o oitavo seguido nas eleições
deste ano, nem ela própria imaginava ser pioneira no parlamento sertanejo.
“Ouvi muitas piadinhas de que não me elegeria, porque lugar de mulher era na
cozinha”, relembra Célia. Reeleita agora pelo PSB, com 1.438 votos, 3,87% dos
votos válidos do município, a quase decana não é mais uma estrela solitária a
dividir a tribuna da Câmara com homens: mais quatro mulheres farão a diferença
na Casa, entre elas Cybele Gomes Cavalcanti Brito, 48 anos, do PP, a mais
votada do município, com 2.039 votos.
Célia
não imaginava, igualmente, que ao enfrentar preconceitos e convencer o
eleitorado conservador da sua terra de que mulher também pode ser política, que
mais tarde o município virasse de fato uma referência em trocar o sexo
masculino pelo feminino também em outro poder, no Executivo. Quatro anos
depois, Arcoverde fez diferente e elegeu a primeira mulher prefeita de sua
história e uma das aves raras do Estado: Erivânia Camelo. Quatro anos depois,
nova saia adentrava na Prefeitura abençoada pelas urnas: Rosa Barros.
Esta,
aliás, também virou mais tarde a primeira deputada de Arcoverde. O que não
estava escrito nas estrelas de Célia, entretanto, é que fosse obrigada a fazer
a mais combativa oposição a uma mulher em todos os 28 anos em que está com
mandato. Envolvida nos dois primeiros anos de sua gestão (93 e 94) em denúncias
de nepotismo e corrupção, a prefeita Erivânia Camelo perdeu o sono e a
tranquilidade pela voz combatente e destemida de Célia na Câmara e nos
tribunais.
A
vereadora chegou a instalar na Câmara a CPI da Corrupção, que não vingou,
segundo ela, por arte maquiavélica do ex-governador Miguel Arraes (PSB). Amigo
da prefeita e do seu marido, o também ex-prefeito Julião Julu, o velho cacique
usou a sua força e prestígio para tornar a CPI letra morta. “Diante do
protecionismo político recorri à TV-Globo. A imoralidade e o nepotismo eram de
tal forma que Arcoverde foi destaque no programa Fantástico”, rememora Célia.
Segundo ela, Erivânia acabou entrando para a história como uma das piores
prefeitas do município.
Quatro
anos depois, a população de Arcoverde consagrou Célia Almeida saindo das urnas
como a vereadora mais votada do município, cravando 1.736 votos. “Não tenho
nenhuma dívida de que foi a minha coragem em enfrentar os desmandos do Governo
Erivânia que me fizeram a mais votada”, afirma. O desapontamento da população
com a primeira mulher prefeita não impediu uma nova aposta em saia.
Na
mesma eleição em que a cidade fez de Célia a vereadora mais votada, o povo
apostou em outra mulher para a Prefeitura: Rosa Barros, que ingressou na vida
pública pelas mãos do seu marido, o ex-prefeito Rui Barros. Com Rosa, Célia
teve momentos de euforia e decepção, apoiando sua gestão por um tempo e depois
fazendo oposição. “Eu combato o que não está certo e não me engajo num projeto
apenas pelo lado partidário”, observa, adiantando que esteve com Rosa até o
momento em que seu Governo não deu as costas ao povo.
Depois
de duas experiências de gestão feminina, Arcoverde elegeu outra mulher prefeita
em 2012: Madalena Brito, reeleita nas eleições deste ano. “Nunca imaginei que
iria fazer escola no município”, brinca Célia, referindo-se ao fato de seu
município ter virado, após a sua primeira eleição de vereadora, em 88, uma
vitrine da mulher no poder. A escola que ela se refere é à da moralidade, da
ética e da coragem.
Apelidada,
carinhosamente, de “Célia coragem”, a parlamentar dá a receita para as mulheres
que projetam entrar na política. “Para estar em sintonia com o povo o político
não pode, primeiro, roubar, e, segundo, rasgar a cartilha da ética. O político
tem que saber que todo vintém pago pelo contribuinte tem que ser revertido em
políticas públicas, como saúde e educação”. Na Câmara, ao longo dos últimos
anos, a vereadora também combateu privilégios. Foi dela, aliás, a iniciativa de
sepultar a ideia de aumentar de dez para 15 o número de vereadores.
Quando
percebeu que havia uma manobra entre seus pares, procurou a Imprensa e botou a
boca na tribuna. “É por isso que Célia nunca perdeu uma eleição, porque está em
sintonia com a população”, diz, orgulhoso, o marido Paulo Galindo. Na próxima
legislatura, Célia vai priorizar a educação. Uma das suas bandeiras será a criação
de uma bolsa-escola de nível superior, para que estudantes pobres possam
garantir acesso aos cursos da faculdade local, que, embora seja uma autarquia do município, cobra uma
mensalidade de R$ 600.