Associações
que representam delegados de polícia no Brasil divulgaram neste domingo (3)
nota conjunta de repúdio a declarações do presidente Jair Bolsonaro sugerindo
direcionamento nas investigações do assassinato da vereadora Marielle Franco
(PSOL) e do motorista dela, Anderson Gomes. Eles
acusam Bolsonaro de tentar intimidar a Polícia Civil do Rio, "com o
intuito de inibir a imparcial apuração da verdade", ao insinuar em vídeo e
entrevistas a adulteração de provas e se referir ao delegado que comanda o inquérito
como "amiguinho" do governador Wilson Witzel (PSC-RJ).
A nota é assinada por Adepol (Associação dos Delegados de Polícia do Brasil), Fendepol (Federação Nacional dos Delegados de Polícia Civil), e por entidades que representam a categoria no Rio, Amazonas e Pará.
"Valendo-se
do cargo de presidente da República e de instituições da União, [Bolsonaro]
claramente ataca e tenta intimidar o delegado de polícia do Rio de Janeiro, com
o intuito de inibir a imparcial apuração da verdade", diz o texto, sem
citar o nome de Daniel Rosa, delegado responsável pelas apurações.
"O
cargo de chefe do Poder Executivo federal não lhe permite cometer atentados à
honra de pessoas que, no exercício de seu múnus [dever] público, desempenham
suas funções no interesse da sociedade e não que qualquer governo",
completam as associações.
As
declarações de Bolsonaro foram dadas após reportagem do Jornal Nacional, da TV
Globo, que revelou a existência de depoimento de um porteiro do condomínio
Vivendas da Barra, citando o presidente durante as investigações
sobre a morte de Marielle.
Na
mesma noite, o presidente gravou da Arábia Saudita um vídeo atacando a rede de
televisão e insinuando direcionamento nas investigações. No dia seguinte, o
Ministério do Público do Rio disse que o depoimento não condiz com os fatos
investigados.
No
vídeo, Bolsonaro atribuiu o vazamento das informações a Witzel, que contou com
apoio do senador Flávio Bolsonaro (PSL-RJ) em sua eleição ao governo do estado,
mas hoje é adversário político da família.
No
fim da semana, o governador virou alvo de ataques nas redes sociais, com a
distribuição de um vídeo que repete o discurso de Bolsonaro ligando Witzel à TV
Globo. O caso está sendo investigado pela Delegacia de Repressão aos Crimes de
Informática.
No
sábado (2), sem apontar evidências, Bolsonaro voltou a acusar Witzel de ter
manipulado o processo que apura o assassinato de Marielle para tentar
incriminá-lo. Bolsonaro repetiu que Witzel "está com sonho e obsessão de
ser presidente". Ele acusou o delegado da Polícia Civil que apura o caso
de ser "amiguinho" do governo do Rio.
"Temos
uma.. está requisitado, está tudo deferido, é a Polícia Federal com o
assessoramento do MP [Ministério Público] Federal lá da seção do Rio de
Janeiro. Vamos ouvir o porteiro, vamos ouvir ai o delegado também, o delegado
que é muito amiguinho do governador, e logicamente que gostaria que o governador
também participasse, né?", disse Bolsonaro.
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