sábado, 3 de maio de 2025

Raquel Lyra nomeia peritos de combate à tortura por indicação política

             Após ficar paralisado por mais de dois anos durante o Governo Raquel Lyra (PSD), o Mecanismo Estadual de Prevenção e Combate à Tortura de Pernambuco foi reativado na última semana, mas a decisão de nomear seis peritos em cargos comissionados sem uma seleção pública gerou polêmica.

O Mecanismo, que tem como objetivo fiscalizar as unidades de privação de liberdade no estado, como os sistemas penitenciário e socioeducativo, passou a não ter atuação desde que a governadora Raquel Lyra assumiu o cargo, com a exoneração de servidores e suspensão de gratificações, conforme o decreto nº 54.393/2023. O impacto dessa paralisação foi sentido por mais de dois anos, até que as nomeações políticas para os novos cargos foram feitas.

A crítica principal está na falta de uma seleção pública para preencher as vagas. De acordo com a lei, o Mecanismo deve ser autônomo e independente, o que implica que a nomeação dos peritos deveria ser feita por meio de um edital, garantindo a imparcialidade e a transparência no processo. Contudo, a Secretaria de Justiça, Direitos Humanos e Prevenção à Violência nomeou, sem concurso público, os peritos: Cleyson Rodrigues dos Santos, Cássia Regina Magalhães Guerra de Alcântara, Antônio Carlos Teixeira Da Silva, Michelly Farias Rocha, Jorge da Costa Pinto Neves e Maurício Bezerra Alves Filho.

Esse ato gerou críticas tanto de movimentos sociais quanto de integrantes do Mecanismo Nacional de Prevenção e Combate à Tortura. A alegação é de que, ao fazer escolhas políticas, o governo comprometeu a independência e a eficácia do Mecanismo, que se torna suscetível a interferências externas.

A controvérsia se intensifica diante da histórica luta pela melhoria das condições prisionais no estado, especialmente após a decisão da Corte Interamericana de Direitos Humanos em 2014, que exigiu do Brasil ações efetivas para garantir a integridade de pessoas privadas de liberdade no Complexo Prisional do Curado, em Recife. O contexto atual revela a persistência de graves problemas nas unidades prisionais, como superlotação, condições precárias e a falta de transparência nas mortes ocorridas.

A nomeação dos peritos ocorreu poucos dias após o caso chegar ao Tribunal de Justiça de Pernambuco (TJPE), onde o Ministério Público de Pernambuco (MPPE) e a Defensoria Pública de Pernambuco (DPPE) entraram com uma Ação Civil Pública (ACP), questionando a decisão do governo e pedindo a realização de um chamamento público para recomposição do Mecanismo. A Justiça agendou uma audiência de conciliação para o mês de julho.

A situação continua a ser acompanhada de perto por defensores dos direitos humanos e autoridades que buscam garantir a independência do Mecanismo de Prevenção e Combate à Tortura, uma ferramenta essencial para a fiscalização e proteção das condições de privação de liberdade em Pernambuco.

“Mecanismos de Prevenção à Tortura não são órgãos de governo, são órgãos de Estado”, critica Camila Antero, membro do Mecanismo Nacional de Prevenção e Combate à Tortura. “Devem ser escolhidos pelo Comitê Estadual, que tem representações do Estado e da sociedade civil, conforme foi feito na seleção de 2014”, complementa.

“O governo está se valendo de uma lei que eles sabem que é omissa e deficiente para criar um órgão aparelhado, que não cumpre ao fim a que se destina, porque não é formalmente independente”, avalia Camila. Do site Marco Zero/ Foto: Sérgio Lima/Poder 360

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