MONTEVIDÉU — Morreu nesta
terça-feira (13), aos 89 anos, o ex-presidente do Uruguai José Alberto “Pepe”
Mujica Cordano. Ícone da esquerda latino-americana e conhecido mundialmente por
sua simplicidade e coerência entre discurso e prática, Mujica enfrentava um
câncer de esôfago diagnosticado em abril de 2024, que já havia se espalhado
pelo corpo. Ele faleceu em seu sítio nos arredores de Montevidéu, onde viveu os
últimos anos cultivando flores, hortaliças e filosofando sobre a vida.
Em janeiro deste ano, Pepe
anunciou publicamente o agravamento da doença. Disse, sem rodeios, que o avanço
da idade e a fragilidade do corpo impediam qualquer tratamento agressivo ou
cirurgia. Optou por seguir sua trajetória com serenidade e dignidade, como
viveu toda a vida.
Pepe Mujica ganhou fama
internacional por seu estilo de vida austero: recusou morar no palácio
presidencial, abriu mão de boa parte do salário, dirigia um Fusca azul dos anos
1970 e mantinha hábitos rurais mesmo durante o mandato. Governou o Uruguai
entre 2010 e 2015, com um governo marcado por avanços sociais, legalização da
maconha, defesa dos direitos civis e ampliação da democracia participativa.
Mas muito além do símbolo,
Mujica foi um pensador político respeitado. Em discursos internacionais,
arrancava aplausos ao defender uma política mais humana, ética e voltada à
coletividade. Sua sabedoria prática e frases como “quem não é capaz de lutar
pela vida, não merece viver” inspiraram gerações de militantes, governantes e
cidadãos comuns.
O presidente Luiz Inácio
Lula da Silva (PT), em visita à China, lamentou a morte do amigo. Em nota
emocionada, Lula exaltou a trajetória de Mujica como um “canto de unidade
e fraternidade para a América Latina”.
“Amanheci em Pequim
com a triste notícia de que Pepe Mujica partiu hoje, nos deixando cheios de
tristeza, mas também de muitos aprendizados. Sua vida foi um exemplo de que a
luta política e a doçura podem andar juntas. E de que a coragem e a força podem
vir acompanhadas da humildade e do desapego”,
disse Lula.
“Sua grandeza humana
ultrapassou as fronteiras do Uruguai e seu mandato presidencial. A sabedoria de
suas palavras continuará guiando movimentos sociais e políticos que buscam uma
sociedade mais igualitária”, completou.
Em dezembro de 2024, Lula
visitou Mujica em seu sítio e lhe concedeu a Ordem Nacional do Cruzeiro do Sul,
a mais alta condecoração brasileira oferecida a personalidades estrangeiras.
Da guerrilha à Presidência - A
história de Mujica se confunde com a resistência democrática uruguaia. Nos anos
1970, integrou o grupo guerrilheiro Tupamaros, que lutava contra a ditadura
militar no país. Foi preso quatro vezes ao longo de 13 anos, sofreu tortura e
chegou a levar seis tiros. Passou boa parte da juventude em celas solitárias,
onde moldou parte de sua visão de mundo.
Com o retorno da democracia,
Mujica foi eleito deputado, senador e depois presidente. Sua atuação sempre foi
pautada pelo discurso direto, pela ética e por um profundo compromisso com os
mais pobres.
Mesmo após deixar a
Presidência, continuou atuando como senador até 2020, quando renunciou ao cargo
por motivos de saúde. Deixou a política institucional, mas nunca a luta por
justiça social.
A morte de Mujica encerra um
capítulo importante da história política da América Latina. Seu legado, no
entanto, segue vivo: em suas palavras, em suas escolhas e no exemplo raro de
coerência entre o que dizia e o que fazia.
Ao lado da companheira de
décadas, a ex-senadora Lucía Topolansky, construiu um caminho de integridade e
amor à causa pública. Foi, sem dúvida, uma das figuras mais admiradas do século
XXI na política latino-americana.
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