quarta-feira, 7 de maio de 2025

Câmara aprova aumento de deputados e ninguém perde nada — exceto o contribuinte

             Em um raro momento de generosidade parlamentar, a Câmara dos Deputados decidiu presentear o Brasil com 18 novos deputados federais de forma célere. Sim, a Casa aprovou um projeto de lei complementar que eleva de 513 para 531 o número de vagas — tudo em nome do crescimento populacional, claro. Afinal, o povo aumenta e, com ele, a necessidade urgente de mais discursos, mais gabinetes e mais assessores pagos com dinheiro público.

A medida, aprovada no apagar das luzes desta terça-feira (6), foi vendida como uma solução política “equilibrada”. O texto, elaborado pelo relator Damião Feliciano (União-PB), derruba a antiga regra da Lei Complementar 78/1993, que ousava propor uma redistribuição proporcional das cadeiras com base na população. Isso significaria que alguns estados — especialmente do Sul e Sudeste — perderiam vagas. Mas como ninguém gosta de perder, a saída foi simplesmente inflar o número total de deputados. Pronto, problema resolvido. Ninguém chora, todo mundo ganha. Literalmente.

"É só 3,5% a mais", justificou Feliciano, como quem acrescenta uma pequena sobremesa à conta já salgada. Ele reforçou que o Brasil cresceu mais de 40% em população nos últimos 40 anos, então aumentar um tiquinho a bancada federal não seria nada demais. O problema, claro, não é crescer — é dividir. E dividir o bolo político (e as verbas de emendas parlamentares) continua sendo algo que Brasília prefere evitar a todo custo.

Para evitar que o Nordeste perdesse oito vagas e, com elas, uma fatia do fundo das emendas, a solução foi manter tudo como está... e adicionar mais algumas cadeiras. Uma matemática simples e reconfortante. Em vez de redistribuir as 513 já existentes, cria-se 18 novas e pronto: todo mundo continua amigo. O Rio de Janeiro, por exemplo, manterá suas 46 vagas, mesmo que, pela regra proporcional, devesse perder quatro. Que sorte!

A urgência da medida veio após o Supremo Tribunal Federal bater à porta do Congresso em agosto de 2023, cobrando uma atualização da representação proporcional — algo que deveria ser feito com base no Censo de 2022. O STF deu até 30 de junho para que o Congresso resolvesse a questão ou, do contrário, o Tribunal Superior Eleitoral (TSE) o faria. A ameaça funcionou. A Câmara agiu. E, claro, agiu politicamente.

O projeto agora vai para o Senado, onde — quem sabe — pode haver algum debate sobre a real necessidade de aumentar o número de parlamentares em um país que já gasta bilhões com o Legislativo. Só em impacto orçamentário, os novos 18 deputados vão custar R$ 64,8 milhões por ano a partir de 2027. Uma pechincha, considerando os benefícios da "representatividade ampliada".

Enquanto isso, o povo segue esperando por escolas, hospitais, segurança e serviços públicos — mas ao menos terá 18 novos representantes para ouvir suas demandas. Se forem ouvidas, é outra história. Foto: Bruno Spada/Câmara dos Deputados / Da Redação, por Paulo Edson 

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