O dia 31 de março de 1964
marca um dos períodos mais sombrios da história do Brasil. Sob o pretexto de
restaurar a democracia, os militares tomaram o poder e instauraram um regime
autoritário que durou 21 anos. O golpe militar, tratado na época como
"Revolução de 64", mergulhou o país em um período de censura,
perseguições políticas, prisões arbitrárias, torturas e mortes.
Em 15 de abril de 1964,
Castelo Branco assumiu a presidência da República, eleito, dias antes, por um
Congresso já bastante expurgado. O novo presidente assumiu o poder prometendo a
retomada do crescimento econômico e o retorno do país à "normalidade
democrática". Isto, no entanto, só ocorreria 21 anos mais tarde. É por
isso que 1964 representa um marco e uma novidade na história política do
Brasil: diferentemente do que ocorreu em outras ocasiões, desta vez militares
não apenas deram um golpe de Estado, como permaneceram no poder.
A imprensa foi fortemente
censurada. Jornais como O Estado de S. Paulo e Jornal do Brasil publicavam
receitas ou poemas para substituir trechos censurados. Músicos como Chico
Buarque e Geraldo Vandré tiveram suas canções proibidas, e novelas como Roque
Santeiro foram vetadas antes mesmo da estreia
A luta pela redemocratização
foi longa e culminou no movimento Diretas Já, na década de 1980. O Brasil só
voltou a ter eleições diretas para presidente em 1989, encerrando um ciclo de
presidentes indicados pelo regime militar.
Entretanto, após quase 40 anos de democracia, uma nova tentativa de ruptura institucional emergiu. Em 8 de janeiro de 2023, bolsonaristas invadiram e depredaram as sedes dos Três Poderes em Brasília, tentando impedir a posse de um presidente eleito democraticamente. Diferentemente de 1964, porém, desta vez as Forças Armadas – especialmente o Exército e a Aeronáutica – rejeitaram a ideia de um golpe, mantendo o Brasil no caminho da legalidade.
O filme Ainda Estou Aqui,
dirigido por Walter Salles, trouxe de volta à memória nacional um dos períodos
mais sombrios da história do Brasil, a Ditadura Militar (1964-1985). A produção
retrata a trajetória de Eunice Paiva, interpretada por Fernanda Torres, em sua
luta para descobrir o paradeiro do marido, o ex-deputado Rubens Paiva,
sequestrado e morto pelo regime militar em 1971.
O filme reacendeu debates
sobre a memória da ditadura e seu impacto na democracia brasileira. Para
muitos, especialmente a juventude, que não viveu esse período, Ainda Estou Aqui
se tornou uma poderosa ferramenta de educação e reflexão, resgatando histórias
de perseguição, censura e resistência, muitas vezes esquecidas ou desconhecidas
pela nova geração
Nenhuma ditadura serve, seja
de direita ou de esquerda. O que define um regime autoritário não é sua
ideologia, mas a supressão das liberdades, a perseguição a opositores e a
imposição do medo como instrumento de controle.
No século XX, o mundo
testemunhou os horrores de ditaduras de diferentes espectros políticos. Regimes
de direita, como o de Augusto Pinochet no Chile (1973-1990) e Francisco Franco
na Espanha (1939-1975), promoveram repressão brutal contra opositores. Por
outro lado, ditaduras de esquerda, como a de Joseph Stalin na União Soviética
(1924-1953) e a de Fidel Castro em Cuba (1959-2008), também restringiram
direitos e perseguiram dissidentes.
O essencial é reconhecer que
democracia, com todos os seus desafios, ainda é a melhor forma de governo. É
essencial manter viva a memória do que aconteceu em 1964. O golpe não foi uma
revolução democrática, mas um atentado à liberdade e aos direitos civis. Como
disse Ulysses Guimarães na promulgação da Constituição de 1988:
“"Temos ódio à
ditadura. Ódio e nojo...A Constituição certamente não é perfeita. Mas ela é a
melhor possível. E enquanto não houver outra, que esta seja respeitada."
Hoje, 61 anos depois, que a
história sirva de alerta para que jamais permitamos que a democracia brasileira
seja novamente sufocada.
👉 Acompanhe mais notícias e curta nossas redes sociais:
Nenhum comentário:
Postar um comentário