Heitor Scalambrini Costa*
Neste
início de dezembro foi amplamente divulgado nas redes sociais uma festa
promovida por um destes personagens que habitam o universo das redes sociais
denominados de “influenciadores”.
O
que me chamou atenção foi o destaque enorme dado para o que foi chamado de “A
farofa da Gkay”. Ela uma personagem deste mundo, que confesso, nunca havia
ouvido falar. A farofa foi a denominação dada a uma festa de aniversário da
senhora Gkay em Fortaleza, que fechou um hotel classe A para que seus
convidados se refestelassem durante três dias.
Faço
menção a esta importante “efeméride nacional” para associar o nome da festa, ao
que também foi denunciado pela imprensa do Sul do país, reproduzido timidamente
no Nordeste, e pouco mencionado em Pernambuco, como “A farofa do Senador”.
O
senador a que me refiro foi eleito pelo PSB pelo Estado de Pernambuco, e hoje
tem guarida no PMDB, e é líder do (des)governo atual no Senado desde
2019, Fernando Bezerra de Souza Coelho. Pertence a uma família
influente, os Coelhos, originária do município de Petrolina. Cidade
pernambucana unida a Juazeiro da Bahia pelo Rio São Francisco, e distante pouco
mais de 700 km da capital, Recife.
O
nobre senador em questão tem um passado bem eclético e nebuloso na política
brasileira, assim como tantos outros personagens. Com o lema “hay gobierno, soy
a favor” circulou por vários partidos, por vários governos de diferentes
espectros políticos. Sem nunca dizer claramente, a que veio, o que pensa, o que
defende para melhorar o país, e principalmente o Nordeste brasileiro.
Semelhante
ao atual presidente brasileiro, tem três filhos, também políticos de profissão.
Um deputado federal, ex-ministro de Minas e Energia (saiba mais em: https://www.redeodsbrasil.org/post/2016/10/02/um-borbonico-no-ministerio-de-minas-e-energia)
no trágico governo Temer. Outro é o atual prefeito de Petrolina, é candidato a
governador do Estado inflado pela dinheirama federal. E o terceiro, deputado
estadual pertencente a ala do baixo clero da Assembleia Legislativa (ALEPE). Os
filhos também mudam de partido como trocam de roupa. Fazem a política do “dando
que se recebe”, daí a necessidade de estarem sempre aliados ao poder da hora.
Mas
vamos a mais um evento onde o senador é a peça central, de tantas outras
“maracutais” denunciadas na justiça, e que me levou a escrever estas linhas com
o título em epigrafe. O líder do governo no Senado, ele próprio, o senador
Fernando Bezerra, foi responsável por direcionar nos anos de 2019 e 2020 ao
menos R$ 200 milhões de reais para obras de pavimentação no município em que o
filho candidato a governador é o atual prefeito.
O
cenário retratado, acabou se tornando um pesadelo para os moradores de bairros
distantes, do centro de Petrolina, principalmente em vilas ligadas a projetos
de irrigação.
Os
serviços asfálticos realizados, segundo denúncias, não foram acompanhados dos
serviços de drenagem e de construção de meio-fio, o que acabou favorecendo os
alagamentos. Menos de 1 ano depois dos serviços realizados, o material
utilizado, com o forte calor da região do semiárido, literalmente derreteu. O
que acarretou aos moradores, a desagradável tarefa de limpar seus calçados
frequentemente. Outra informação prestada pelos moradores é que o material
usado como asfalto, se quebra em pedaços, e esfarela.
A
má qualidade das obras de pavimentação, apresentando buracos e falhas nas vias,
foi verificada pela Controladoria Geral da União-CGU, cujo Relatório de
Avaliação nº 824069 de 25/2/2021 apontou o envolvimento de duas construtoras,
sendo uma delas de propriedade de familiares do senador. Esta mesma empresa,
“estranhamente”, só participa de licitações promovidas pela CODEVASF (quem
efetuou o pregão para as obras em questão), que como todos sabem, inclusive por
integrantes do reino mineral, que esta empresa pública está loteada ao
grupo político do senador Bezerra Coelho.
Nesta
mesma direção envolvendo a Companhia de Desenvolvimento dos Vales do São
Francisco e do Parnaíba (CODEVASF), empresa pública vinculada ao Ministério do
Desenvolvimento Regional, foi a denúncia do Jornal Folha de São Paulo, sobre a
existência nos pátios da empresa, de uma grande quantidade de equipamentos
acumulados ao relento, e tão necessários ao homem do campo. Uma malvadeza sem
tamanho. Cisternas, caixas d’água, tratores, implementos agrícolas, tubos de
irrigação e canos, segundo a reportagem, foram adquiridos a partir de emendas
parlamentares, e que esperam o ano eleitoral de 2022 para serem distribuídos,
no famoso “toma lá e dá cá”.
Estas
são situações envolvendo o senador, sua família e grupo político, que infestam
a politicagem pernambucana e nacional. Cujos grupos vivem pendurados nos
governos de plantão, utilizando o meu, o seu, o nosso dinheiro para comandar
uma das mais antigas práticas políticas ainda existentes, o coronelismo. Em
pleno século XXI, formatado agora, no neocoronelismo, mais que ainda sobrevive
fortemente com a troca de favores.
O
Brasil não merece. Nós não merecemos.
*Professor
associado aposentado da Universidade Federal de Pernambuco (UFPE)
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