O
episódio em questão é conhecido como o “prende e solta” de Lula. Isso porque no
mesmo dia, o ex-juiz Sergio Moro, que estava de férias, disse que o
desembargador plantonista não poderia mandar soltar o ex-presidente, que estava
detido desde abril daquele ano, dizendo que ele era "autoridade
absolutamente incompetente para sobrepor-se à decisão do Colegiado da 8ª Turma
do Tribunal Regional Federal da 4ª Região”.
O
relator do processo no TRF-4, Pedro Gebran Neto, suspendeu a decisão do colega
plantonista. Em seguida, Favreto reafirmou a decisão pela soltura. A questão
foi resolvida pelo então presidente do TRF-4, Thompson Flores, que manteve a
prisão afirmando que o pedido de habeas corpus de Lula caberia ao desembargador
João Pedro Gebran Neto.
A
defesa de Lula teve acesso às conversas após autorização do Supremo, e as
análises foram enviadas ao ministro Ricardo Lewandowski no âmbito de uma
reclamação. Os diálogos foram analisados pelo perito Cláudio Wagner, contratado
pela defesa. Este é o nono relatório de análise preliminar enviado ao STF.
Conforme
documento, após tomar conhecido da decisão de Favreto, integrantes da
força-tarefa passaram a trocar mensagem pelo aplicativo Telegram. As conversas
seriam no sentido de articular uma forma de manter Lula preso, na busca de
evitar que a Polícia Federal o soltasse enquanto aguardavam uma decisão que
revertesse a de Favreto. "É preciso uma contraordem do Gebran ou Lens
(Carlos Eduardo Thompson Flores Lenz). Não adianta a gente falar. Pela
aparência, Favretto pode cassar a decisão do Moro”, teria dito Deltan em um
momento.
Em
outro, o procurador teria afirmado: “Falei com Valeixo agora. Seguem segurando.
Estão em contato com o TRF tb”. As mensagens estão transcritas na reportagem
tal como estão no documento enviado pela defesa de Lula. Conforme relatos,
depois da segunda decisão de Favreto, reafirmando a soltura do ex-presidente,
Dallagnol teria dito aos demais membros do Ministério Público Federal (MPF)
presentes no grupo do aplicativo: “Vou ligar pra PF e pedir pra não cumprir”.
Logo
mais, o procurador falou sobre uma suposta orientação do relator Pedro Gebran.
“Orientação do Gebran è que a PF solte se não vier decisão do presidente do
TRF. Pedi pra PF segurar, mas predicávamos (precisávamos) deneto dessa 1h ter
sinal positivo. Pq eu dizer e nada não muda muito qdo tem ordem judicial”,
escreveu. O procurador fala em horário porque na decisão, Favreto dá uma hora
para que Lula fosse solto.
Em
um momento, no decorrer da discussão sobre o que poderia ser feito, o
procurador Januário Paludo teria comentado que já enfrentaram desembargadores
corruptos antes, mas que a questão em foco parecia ser ideológica.
Ainda
na discussão, Dallagnol diz: “o problema é que Gebran disse pro Valeixo
(Maurício Valeixo, então superintendente da PF no Paraná) cumprir a ordem do
Favreto se não vier contraordem tempestiva do presidente”. Uma procuradora
identificada como Jerusa, que seria Jerusa Viecili, então, diz: "Imprime e
leva em mãos para o presidente". Dallagnol respondeu: "Ou driblamos
isso ou vamos perder".
Januário
Paludo, em seguida, afirma: “Waleixo (Valeixo) me ligou e pediu para que
informássemos assim que protocolado o pedido para o Lenz. Ele precisa
tranquilizar o pessoal da PF que está com receito (receio) de ultrapassar 1
hora, segundo disse, que o Favareto deu para liberar o lula. Disse que não é o
Favreto quem processa por abuso de autoridade ou crime, mas somos nós, e,
eventualmente o Gilmar Mendes. Que é para ficarem tranquilos e que deve ser
respeitada a decisão do Gebran até posição do Lenza”.
Em
seguida, o procurador afirma que o então diretor da PF ligou novamente. “Lenz
ligou para ele pedindo para aguardar a decisão dele”. E completa: “Acho que
vocês conseguiram um fôlego”. Deltan responde alguns minutos depois: “Valeixo
falou com Thompson, que mandou não cumprir até ele decidir. Isso nos dá mais
tempo”.
É
então que Dallagnol cita a ministra Cármen Lúcia e o ex-ministro de Segurança
Raul Jungmann: “Carmem Lúcia ligou pra Jungman e mandou não cumprir e teria
falado tb com Thompson. Cenário tá bom”. Por fim, Thompson Flores suspende a
prisão de Favreto e o ex-presidente Lula continuou preso, algo que teria sido
comemorado por Deltan, segundo diálogos: “É teeeeetraaaa. Decisão assinada
mantendo a do Gebran”, teria escrito.
Ao
Correio, o ex-ministro Raul Jugmann chamou os diálogos de “mentira”. “Esse
diálogo não aconteceu e não poderia acontecer, porque se tivesse ocorrido, a
ministra e eu teríamos incorrido em crime de obstrução da Justiça. O senhor
Dallagnol está imputando a mim e à ministra um crime e vou interpelá-lo
judicialmente, para que ele confirme ou desminta o diálogo”, afirmou.
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