
O
ministro Luis Roberto Barroso assumiu nesta segunda-feira (25) a presidência do
Tribunal Superior Eleitoral com uma sinalização de quais devem ser os
requisitos para o adiamento das eleições municipais deste ano em razão da
pandemia do novo coronavírus. Embora deixe claro que não há nenhuma decisão
tomada, o ministro descartou, apenas, o cancelamento do pleito para 2022. Barroso
vai presidir a corte até 2022 — seu vice será o ministro Edson Fachin. Caberá
ao novo presidente conduzir as eleições municipais deste ano.
“Em
conversas preliminares com os ministros, o presidente do Senado e com o
presidente da Câmara, constatei que todos estamos alinhados em torno de algumas
premissas básicas: as eleições somente devem ser adiadas se não for possível
realizá-las sem risco para a saúde pública; em caso de adiamento, ele deverá
ser pelo prazo mínimo inevitável; prorrogação de mandatos, mesmo que por prazo
exíguo, deve ser evitada até o limite; o cancelamento das eleições municipais,
para fazê-las coincidir com as eleições nacionais em 2022, não é uma hipótese
sequer cogitada”, disse em seu discurso — que também defendeu que as questões de
saúde pública devem ser tratadas por sanitaristas.
Segundo
Barroso, uma das grandes preocupações da Justiça Eleitoral são as chamadas fake
news — ou, em suas palavras, “as campanhas de desinformação, difamação e de
ódio”. “Na medida em que as redes sociais adquiriram protagonismo no processo
eleitoral, passaram a sofrer a atuação pervertida de milícias digitais, que
disseminam o ódio e a radicalização. São terroristas virtuais que utilizam como
tática a violência moral, em lugar de participarem do debate de ideias de
maneira limpa e construtiva”, disse.
Segundo
o novo presidente, a Justiça Eleitoral deve enfrentar esses desvios, mas é
preciso reconhecer que sua atuação é limitada por fatores diversos. “Os
principais atores no enfrentamento às fake news hão de ser as mídias sociais, a
imprensa profissional e a própria sociedade. As plataformas digitais – como
Google, Facebook, Instagram, Twitter e Whatsapp – podem se valer da própria
tecnologia e de suas políticas de uso para neutralizar a atuação de robôs e
comportamentos inusuais. É necessário o esforço comum de todas elas para
impedirem o uso abusivo que importa em degradação da democracia”, disse.
Em
razão das medidas de distanciamento social adotadas diante da pandemia
provocada pelo novo coronavírus, o evento foi realizado, de forma inédita no
Tribunal, com uma mesa virtual de autoridades. Somente estiveram
presencialmente no Plenário do TSE a atual presidente da Corte, ministra Rosa
Weber; os ministros Barroso e Luiz Edson Fachin, que assumiram seus cargos; e o
ministro Luis Felipe Salomão, escolhido para dar as boas-vindas ao novo
presidente, em nome da Corte.
O
presidente Jair Bolsonaro (sem partido), os presidentes da Câmara, Rodrigo Maia
(DEM-RJ), e do Senado, Davi Alcolumbre (DEM-AP) e os representantes do Supremo
Tribunal Federal, do Tribunal Superior do Trabalho, do Superior Tribunal de
Justiça e do Conselho Federal da OAB acompanharam a cerimônia por
videoconferência.
Recados
Barroso
também fez uma defesa da política como necessidade de um regime democrático.
"Ajudar a traçar os rumos da nação, escolher os caminhos do
desenvolvimento, da justiça social e do avanço civilizatório é a missão sublime
que toca aos agentes públicos eleitos. Numa democracia, política é gênero de
primeira necessidade", afirmou. No discurso de posse, Barroso afirmou que
o aprimoramento da vida política estão no topo da agenda e elogiou a
promulgação da Constituição Federal de 1988.
"Com
ela, fizemos a travessia bem-sucedida de um regime autoritário, intolerante e
muitas vezes violento para um Estado democrático de direito, com eleições
periódicas e alternância no poder. Essa foi a grande conquista da nossa
geração. Um país sem presos políticos, sem exilados, sem violência contra os
adversários. Democracia não é o regime político do consenso, mas aquele em que
o dissenso é legítimo, civilizado e absorvido institucionalmente. Quem pensa
diferente de mim não é meu inimigo, mas meu parceiro na construção de um mundo
plural. A democracia tem lugar para conservadores, liberais e progressistas.
Nela só não há lugar para a intolerância, a desonestidade e a violência",
disse.
O
novo presidente do TSE ainda defendeu o Supremo de ataques. "Como qualquer
instituição em uma democracia, o Supremo está sujeito à crítica pública e deve
estar aberto ao sentimento da sociedade. Cabe lembrar, porém, que o ataque
destrutivo às instituições, a pretexto de salvá-las, depurá-las ou expurgá-las,
já nos trouxe duas longas ditaduras na República. São feridas profundas na
nossa história, que ninguém há de querer reabrir".
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