
A
comunidade científica fez, nesta sexta-feira (06), no auditório do Espaço
Ciência, as suas considerações sobre a hipótese de construção de uma usina
nuclear em Itacuruba, no Sertão de Pernambuco. Promovido pela Academia
Pernambucana de Ciências (APC), com o apoio da Secretaria de Ciência,
Tecnologia e Inovação de Pernambuco (SECTI), o evento reuniu especialistas e
representantes da sociedade civil para discutir de maneira técnicas os impactos
positivos e negativos da possibilidade.
O
secretário Aluísio Lessa destacou a importância de trazer a público a opinião
dos cientistas. “Não se tem oficialmente uma decisão, apenas a intenção do
Governo Federal em investir US$ 30 bilhões em seis plantas, sendo Itacuruba uma
delas. Diante disso, precisamos debater com a comunidade científica e a
sociedade civil para chegar a um denominador comum e saber se é ou não viável
para Pernambuco ter um empreendimento deste tipo.”
Para
o conselheiro da Associação Brasileira para o Desenvolvimento de Atividades
Nucleares, Carlos Henrique Mariz, as consequências da instalação de uma usina
são amplamente favoráveis. “Estudos criteriosos selecionaram Itacuruba como
local provável para a instalação de uma usina nuclear e nós somos a favor
disso. O risco de acidente nuclear é mínimo. Estamos na terceira geração dessas
usinas, não existe a ameaça eminente de poluição ou de evacuação da população”,
comentou.
O
professor aposentado da Universidade Federal de Pernambuco (UFPE) Heitor
Scalambrini enumerou as razões que o fazem ser contrário à hipótese. “Somos
contra por vários fatores. É uma energia cara e isso vai incidir na conta do
consumidor; todo o processo de construção do combustível nuclear tem emissão de
gases do efeito estufa; a sociedade não está sendo consultada neste processo; e
como vamos deixar para as gerações futuras o lixo atômico sem saber como
armazená-lo de forma definitiva?”, declarou.
Na
ótica do ex-ministro de Ciência e Tecnologia, Sérgio Rezende, o desenvolvimento
econômico e social que pode ser gerado para a região precisa ser levado em
consideração. "Possivelmente, os profissionais que irão trabalhar na usina
nem brasileiros serão. Mas a população de Itacaruba vai ter oportunidades que
nunca antes tiveram. Desprezar o investimento de 20 bilhões de reais no Sertão
de Pernambuco é um erro histórico", disse.
A
professora de sociologia da Universidade de Pernambuco, Vânia Fialho, defendeu
o impacto negativo que a usina pode trazer ao povo de Itacuruba. "Esse
projeto tem como vetor o vazio demográfico da região. As pesquisas de
viabilidade estão sendo conduzidas por empresas privadas, que têm seus próprios
interesses e deixam de lado as políticas públicas. Além disso, tem que se levar
em consideração a estrutura da cidade e condição de vida da população diante
deste empreendimento. E todos os segmentos da sociedade precisam ser ouvidos. Em
Paulo Afonso, por exemplo, os povos tradicionais vêm sendo impactados desde a
implantação da usina da Chesf. Os danos foram graves", salientou.
O
presidente da APC, José Aleixo, comemorou o resultado do evento e falou que
serão promovidas novas rodadas da iniciativa. “Não queremos ser contra ou a
favor, apenas trazer o embasamento científico para a discussão. Para se
construir uma usina nuclear existem aspectos positivos e negativos, que estão
ligados à economia, a sociedade, o meio ambiente, a ciência e tecnologia.
Trouxemos à sociedade a visão técnico-científica destes pontos. Este foi o
primeiro debate e é possível que façamos outros mais, inclusive na região de
Itacuruba, onde a população parte interessada”, concluiu. Da Folhape.
Nenhum comentário:
Postar um comentário