A possibilidade de denunciar Bolsonaro é vista como remota, pois o Palácio do Planalto elaborou uma linha de defesa que, apesar de ser considerada frágil, é suficiente para afastar a acusação de prevaricação.
Um dos pontos que poderiam atrasar a conclusão do inquérito seria a oitiva do
presidente. Isso porque um impasse já impede que outro inquérito vá adiante: o
que apura se Bolsonaro tentou interferir politicamente na Polícia Federal.
Aberto no primeiro semestre do ano passado, a PF pediu para ouvir o presidente
pessoalmente. O hoje ministro aposentado do Supremo Tribunal Federal (STF)
Celso de Mello havia decidido que a oitiva seria presencial. O caso chegou ao
plenário do Supremo, mas o julgamento está marcado para setembro. Assim, a
apuração do episódio das vacinas só demorará se a PF exigir ouvir o presidente
em pessoa.
Integrantes
da PGR viram a decisão do vice-procurador Humberto Jacques de Medeiros, de
pedir para que o caso fosse apurado depois da CPI da Covid, como uma forma de
atrasar a investigação, ante a possibilidade de, ao final da comissão de
inquérito no Senado, não se conseguir imputar culpa ao presidente — o que
esvaziaria o pedido. “Aras havia se manifestado nesse sentido anteriormente.
Essa postura deixa o indício de que existe um alinhamento entre o procurador e
seu vice no sentido de blindar o presidente”, disse um procurador, na condição
de anonimato. Mas, devido à decisão da ministra Rosa Weber, na última
sexta-feira, a PGR foi obrigada a abrir apuração.
Fontes
apontam que o crime de prevaricação é difícil de provar e apostam que a
investigação será arquivada. A avaliação dos procuradores é que o presidente
sabe como se defenderá: dirá que informou o ex-ministro da Saúde, general
Eduardo Pazuello, sobre a possibilidade de irregularidades no dia 22 de março,
dois dias depois de ser avisado pelos irmãos Luis Ricardo e Luis Cláudio
Miranda. O militar, por sua vez, passou para o ex-secretário executivo da
pasta, Elcio Franco. O problema é o tempo que ambos deixaram a pasta — um no
dia 23 e outro no dia 26. Mesmo assim, a justificativa é considerada capaz de
sustentar a tese de que o presidente não prevaricou.
O primeiro ato a ser feito no âmbito da investigação é ouvir os irmãos Miranda.
Se eles apresentarem algum vídeo ou áudio que mostra o presidente dizendo que
levaria a questão à PF — como garantem que o presidente falou —, a situação
muda. Caso contrário, se Pazuello e Elcio confirmarem que foram acionados,
checaram os documentos e não viram qualquer irregularidade, será difícil provar
a prevaricação.
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