"O
presidente sabia que tinha crime naquilo", disse o deputado. Miranda é
irmão de um servidor do Ministério da Saúde que, segundo ele, teve conhecimento
dos problemas. De acordo com o parlamentar, após o encontro, Bolsonaro ficou
"convencido" e se comprometeu a acionar "imediatamente" a
Polícia Federal.
"Entreguei
a Bolsonaro. O caso não é só de pressão. É gravíssimo: tem desvio de conduta,
invoice irregular, pedido de pagamento antecipado que o contrato não previa,
quantidades diferentes", disse Miranda à CNN.
Miranda
afirmou que decidiu ir ao presidente porque seu irmão, Luis Ricardo Fernandes Miranda,
estava sofrendo retaliação por resistir a anuir com as tratativas. Ele já havia
sido exonerado de um cargo de confiança e, segundo o deputado, só retomou o
posto após o próprio parlamentar procurar diretamente o então ministro Eduardo
Pazuello.
"Quando
eu vi que o caso era grave e vi que poderiam ter pessoas envolvidas do alto
escalão, fui direto no presidente. Fiz a pedido do meu irmão, que não confiava
em ninguém e estava com medo", afirmou.
Miranda
disse que o irmão foi cobrado para acelerar a assinatura da nota fiscal das
vacinas numa sexta-feira, dia 19 de março, às 23 horas. "Eu disse a
ele, Luis, dorme e amanhã vamos ao presidente Bolsonaro, porque não sabemos
mais em quem confiar", afirmou.
De
acordo com o deputado, o encontro com o presidente ocorreu no dia 20 de
março, às 16h30. Miranda conta que ele, o irmão e a esposa, que ficou na
antessala, se encontraram com o presidente e entregaram provas concretas: a
cópia do contrato, a nota fiscal que seria fraudulenta e a comparação entre
elas. "O presidente demonstra que se convenceu dos indícios de
irregularidade, disse que ia encaminhar para o DG da Polícia Federal para
devidas providências".
Miranda
disse que levou a Bolsonaro uma série de documentos para que não houvesse
dúvidas sobre a acusação. "Relatos? Ele não ia acreditar em mim, não. Os
amigos dele que estão lá dentro, ué. Levei provas contundentes. Ele se
convenceu e ficou de chamar o DG (diretor-geral da Polícia Federal)".
Entretanto,
Miranda não recebeu retorno sobre o caso. No dia 23 de março, ele conta
que enviou uma mensagem ao secretário-adjunto do presidente perguntando se ele
estaria chateado.
"Eu
defendo os policiais e o combate à corrupção, levo para pessoa eleita na mesma plataforma
que a minha, não tinha motivo para o presidente não ter gostado da informação,
estou protegendo nosso país", disse Miranda. O secretário teria respondido
que não, que seriam muitas demandas e que relembraria Bolsonaro.
No
dia seguinte, dia 24 de março, o deputado diz ter procurado o presidente
novamente ao saber que as vacinas estariam próximas do vencimento e que, para
dar tempo de importar, distribuir e vacinar a população com essas doses,
"teria que fazer mágica". Miranda diz nunca mais ter conseguido
contato com o presidente.
Miranda
afirmou que o grupo econômico encarregado das negociações para trazer a Covaxin
ao Brasil já se envolveu em outros problemas no passado e que sua pauta é de
"combate à corrupção".
"Qual
a minha plataforma? Minha plataforma é segurança pública e combate à corrupção.
Tem vários parlamentares que têm essa plataforma. Plataforma política, de vida,
de tudo. Quem é o cara que tem a mesma plataforma que a gente e está no
executivo? O Bolsonaro", afirmou.
O
depoimento dos irmãos Miranda já está previsto na CPI da Pandemia. Senadores
que compõem a comissão afirmaram à CNN que já foram avisados da
disposição de Miranda de relatar as irregularidades e os avisos feitos
diretamente ao presidente.
Procurado,
o Palácio do Planalto ainda não se manifestou. A CNN procurou também
o Ministério da Saúde e o ex-ministro Eduardo Pazuello e aguarda retorno.
Em
nota, a Precisa Medicamentos disse que as tratativas com o Ministério
da Saúde seguiram todos os caminhos formais e de forma transparente. Sobre o
valor da vacina, a empresa afirmou que foi o mesmo cobrado dos governos de
outros treze países.
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