Os
reflexos do contingenciamento de R$ 7,4 bilhões do Ministério da Educação já
começam a ser sentidos nos cursos de mestrado e doutorado. A Coordenação de
Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (Capes) vai congelar neste
semestre bolsas que estão ociosas e reduzir aquelas que são concedidas em
instituições mal avaliadas. Associações das áreas de ciência e educação devem
começar hoje a se mobilizar para reverter bloqueios no Congresso.
Além
do aperto na oferta de bolsas, a Capes vai encerrar o programa Idiomas Sem
Fronteiras, que havia sido criado na esteira do Ciência sem Fronteiras. A
coordenação não informou quantas bolsas serão atingidas com as medidas, mas a
conta é reduzir inicialmente R$ 150 milhões dos R$ 3,4 bi destinados para a
atividade.
Será
preservado neste primeiro momento o pagamento de bolsas para formação de
professores de educação básica. Atualmente, são 107.260 bolsistas. Nos
registros da Capes, havia em fevereiro deste ano 92.253 bolsistas na
pós-graduação. Os auxílios repassados estão há anos sem reajuste. Para
mestrado, o valor mensal é de R$ 1,5 mil; para doutorado, é de R$ 2,2 mil.
Diante
dos cortes, pesquisadores vão iniciar uma movimentação no Congresso, com o
objetivo de tentar blindar a área e obter, por meio de emendas parlamentares,
recursos para o setor. Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência,
Academia Brasileira de Ciência e Associação Nacional de Dirigentes das
Instituições Federais de Ensino Superior (Andifes) pretendem a partir de hoje
fazer um trabalho de convencimento entre parlamentares, para mostrar o risco
que envolve a redução de investimentos em pesquisas no País. "A ciência
está com a corda no pescoço", resumiu o presidente da Sociedade Brasileira
para o Progresso da Ciência (SBPC), Ildeu Castro Moreira.
Os
cortes na Capes eram esperados com apreensão por pesquisadores. Helena Nader,
do Conselho da Capes, afirmou que, na última reunião do grupo, em abril,
integrantes já haviam sido informados de que era certa a redução de
investimentos. "Os prejuízos a médio e longo prazo são incalculáveis. Mais
do que isso, vêm na contramão do que ocorre em outros países", completou a
pesquisadora. Ela citou como exemplo a África do Sul. "Um país que há
pouco tempo lutava contra o apartheid investe de forma expressiva na educação e
na ciência". "Estamos diante não da estagnação, mas do
retrocesso."
A
pesquisadora diz haver um consenso de que investimentos em bolsas pós-doutorado
são indispensáveis para impulsionar a economia do País e melhorar a balança
comercial. "Escolas de agricultura, como Embrapa, são essenciais para o
agronegócio." Outro exemplo citado por ela foi a Embraer. "Ela nasceu
do Instituto Tecnológico da Aeronáutica. Outra mostra de que a pesquisa não é
um custo, mas um investimento."
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