Com
a voz embargada, nervosa e tropeçando nas palavras, a jornalista e
apresentadora do Jornal Nacional, Renata Vasconcelos, anunciou por volta das
19h45 da noite desta quarta-feira, dia 17 de maio de 2017, a notícia mais
bombástica da política brasileira: o presidente Michel Temer (PMDB) mandou pagar
mesada para calar o ex-deputado Eduardo Cunha (PMDB), preso por corrupção.
A
notícia foi dada em primeira mão pelo jornalista Lauro Jardim, de O Globo (?) e
revelou que o empresário Joesley Batista e seu irmão Wesley fizeram delação
premiada e apresentaram áudios e vídeos que comprometem diretamente o
presidente Michel Temer e o senador Aécio Neves (PSDB) que teria pedido R$ 2
milhões, além de citar o ex-ministro Guido Mantega como operador financeiro do
PT.
Um
flagrante feito do senador Aécio Neves no plenário do Senado no momento em que
lia as notícias postadas pelo jornalista Lauro Jardim provocaram uma evacuação
imediata do político mineiro do plenário do Senado Federal como constatou Lauro
Jardim. Na Câmara dos Deputados, o Partido A Rede já entrou com um pedido de
impeachment de Michel Temer e o deputado Miro Teixeira foi o mais assediado.
Ele é autor de uma PEC que antecipa as eleições para já.
O
Palácio do Planalto lançou nota agora a pouco aonde diz que o presidente não
cometeu nenhum ilícito pois “não solicitou pagamento para silenciar o
ex-deputado Eduardo Cunhas”, porém não nega de quem é a voz na gravação, que é
de Temer.
Veja
abaixo a matéria de O Globo que desencadeou o início do fim do Governo Temer.
Na tarde de quarta-feira passada, Joesley Batista e o seu irmão Wesley entraram apressados no STF e seguiram direto para o gabinete do ministro Edson Fachin. Os donos da JBS, a maior produtora de proteína animal do planeta, estavam acompanhados de mais cinco pessoas, todas da empresa. Foram lá para o ato final de uma bomba atômica que explodirá sobre o país — a delação premiada que fizeram, com poder de destruição igual ou maior que a da Odebrecht. Diante de Fachin, a quem cabe homologar a delação, os sete presentes ao encontro confirmaram: tudo o que contaram à Procuradoria-Geral da República em abril foi por livre e espontânea vontade, sem coação.
É
uma delação como jamais foi feita na Lava-Jato:
Nela,
o presidente Michel Temer foi gravado em um diálogo embaraçoso. Diante de
Joesley, Temer indicou o deputado Rodrigo Rocha Loures (PMDB-PR) para resolver
um assunto da J&F (holding que controla a JBS). Posteriormente, Rocha
Loures foi filmado recebendo uma mala com R$ 500 mil enviados por Joesley.
Temer também ouviu do empresário que estava dando a Eduardo Cunha e ao operador
Lúcio Funaro uma mesada na prisão para ficarem calados. Diante da informação,
Temer incentivou: "Tem que manter isso, viu?".
Aécio
Neves foi gravado pedindo R$ 2 milhões a Joesley. O dinheiro foi entregue a um
primo do presidente do PSDB, numa cena devidamente filmada pela Polícia
Federal. A PF rastreou o caminho dos reais. Descobriu que eles foram
depositados numa empresa do senador Zeze Perrella (PSDB-MG).
Joesley
relatou também que Guido Mantega era o seu contato com o PT. Era com o
ex-ministro da Fazenda de Lula e Dilma Rousseff que o dinheiro de propina era
negociado para ser distribuído aos petistas e aliados. Mantega também operava
os interesses da JBS no BNDES.
Joesley
revelou também que pagou R$ 5 milhões para Eduardo Cunha após sua prisão, valor
referente a um saldo de propina que o peemedebista tinha com ele. Disse ainda
que devia R$ 20 milhões pela tramitação de lei sobre a desoneração tributária
do setor de frango.
Pela
primeira vez na Lava-Jato foram feitas "ações controladas", num total
de sete. Ou seja, um meio de obtenção de prova em flagrante, mas em que a ação
da polícia é adiada para o momento mais oportuno para a investigação. Significa
que os diálogos e as entregas de malas (ou mochilas) com dinheiro foram
filmadas pela PF. As cédulas tinham seus números de série informados aos
procuradores. Como se fosse pouco, as malas ou mochilas estavam com chips para
que se pudesse rastrear o caminho dos reais. Nessas ações controladas foram
distribuídos cerca de R$ 3 milhões em propinas carimbadas durante todo o mês de
abril.
Se
a delação da Odebrecht foi negociada durante dez meses e a da OAS se arrasta
por mais de um ano, a da JBS foi feita em tempo recorde. No final de março, se
iniciaram as conversas. Os depoimentos começaram em abril e na primeira semana
de maio já haviam terminado. As tratativas foram feitas pelo diretor jurídico
da JBS, Francisco Assis e Silva. Num caso único, aliás, Assis e Silva acabou
virando também delator. Nunca antes na história das colaborações um negociador
virara delator.
A
velocidade supersônica para que a PGR tenha topado a delação tem uma explicação
cristalina. O que a turma da JBS (Joesley sobretudo) tinha nas mãos era algo
nunca visto pelos procuradores: conversas comprometedoras gravadas pelo próprio
Joesley com Temer e Aécio — além de todo um histórico de propinas distribuídas
a políticos nos últimos dez anos. Em duas oportunidades em março, o dono da JBS
conversou com o presidente e com o senador tucano levando um gravador escondido
— arma que já se revelara certeira sob o bolso do paletó de Sérgio Machado,
delator que inaugurou a leva de áudios comprometedores. Ressalte-se que essas conversas,
delicadas em qualquer época, ocorreram no período mais agudo da Lava-Jato. Nem
que fosse por medo, é de se perguntar: como alguém ainda tinha coragem de
tratar desses assuntos de forma tão desabrida?
Para
que as conversas não vazassem, a PGR adotou um procedimento inusual. Joesley,
por exemplo, entrava na garagem da sede da procuradoria dirigindo o próprio
carro e subia para a sala de depoimentos sem ser identificado. Assim como os
outros delatores.
Ao
mesmo tempo em que delatava no Brasil, a JBS mandatou o escritório de advocacia
Trench, Rossi e Watanabe para tentar um acordo de leniência com o Departamento
de Justiça dos EUA (DoJ). Fechá-lo é fundamental para o futuro do grupo dos
irmãos Batista. A JBS tem 56 fábricas nos EUA, onde lidera o mercado de suínos,
frangos e o de bovinos. Precisa também fazer um IPO (abertura de capital) da
JBS Foods na Bolsa de Nova York.
Pelo
que foi homologado por Fachin, os sete delatores não serão presos e nem usarão
tornozeleiras eletrônicas. Será paga uma multa de R$ 225 milhões para livrá-los
das operações Greenfield e Lava-Jato que investigam a JBS há dois anos. Essa
conta pode aumentar quando (e se) a leniência com o DoJ for assinada.