Aos olhos desavisados, o
gesto poderia parecer incomum — ou até improvável. Mas Chapada não era comum.
Natural do interior e profundamente enraizado nas tradições nordestinas, ele
desafiou estigmas ao fazer da vaquejada e dos desfiles cívicos espaços também
de inclusão.
“O pano era leve, mas
o que ele significava era muito pesado”, dizia sobre a
bandeira colorida, que levava junto de um cartaz com a frase “Não ao
preconceito”.
Chapada decidiu se engajar
após o atentado homofóbico à boate Pulse, em Orlando (EUA), em 2016, que deixou
mais de 50 mortos. Tocou-o fundo. O vaqueiro simples, morador de Floresta (PE),
se viu compelido a agir — e o fez à sua maneira, no lombo do cavalo, no meio da
poeira e do sertão, com coragem de quem escolheu estar ao lado dos
marginalizados.
“Sou matuto, mas sou
esclarecido e gosto de coisa difícil”, declarou ele, em
entrevista concedida em 2023.
Infelizmente, sua trajetória
de empatia terminou de forma brutal. Valmir foi assassinado a tiros em novembro
de 2024, em Floresta. Tinha 58 anos. Deixou esposa, dois filhos e dois netos. A
Polícia Civil de Pernambuco informou que o inquérito foi concluído e
encaminhado ao Ministério Público, com indiciamento, mas os detalhes do caso
ainda não ecoam publicamente. Na cidade, o silêncio fala mais que palavras.
Apesar da ausência de
respostas, sua memória segue viva. Neste sábado (28/06), em meio às celebrações
do Dia do Orgulho LGBTQIAPN+, o Clube Metrópole, no Centro do Recife, prestará
uma homenagem póstuma a Chapada, como parte de sua tradição anual de reconhecer
personalidades que contribuíram com a luta por diversidade e justiça social. A
viúva de Valmir, Marluce Carvalho, estará presente.
“Será um momento de
nos orgulharmos da coragem e da ousadia que ele demonstrou no Sertão
pernambucano. E também de unirmos nossas vozes por justiça para Chapada. Existe
um silêncio em torno do seu assassinato, mas ele não será esquecido”,
afirmou Maria do Céu, produtora do evento.
Antes disso, em dezembro de
2024, durante a 66ª edição da tradicional Missa do Vaqueiro de Floresta,
Chapada foi homenageado como ícone da cultura popular e defensor das tradições
nordestinas. Um reconhecimento que reforça o quanto sua imagem transcendeu fronteiras
e bandeiras.
No fim das contas, o vaqueiro que dizia “gostar de coisa difícil” talvez tenha sido apenas o que mais entendeu que a luta pela dignidade humana não tem limites geográficos nem barreiras culturais. Chapada foi resistência, foi voz dissonante, foi exemplo. E continuará sendo memória viva nas estradas de terra por onde passou — bandeira ao vento, sem medo de ser farol.
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