Ramagem, ex-diretor da
Agência Brasileira de Inteligência (Abin), é o único parlamentar réu no
processo que apura as articulações golpistas conduzidas por integrantes da
cúpula do governo Bolsonaro. O caso está registrado no STF sob a Petição nº
12.100.
A proposta de suspensão,
articulada pela Comissão de Constituição e Justiça (CCJ) e relatada pelo
deputado Alfredo Gaspar (União-AL), foi levada ao plenário no mesmo dia e
aprovada de forma relâmpago. A velocidade foi impulsionada pelo esvaziamento
previsto da Câmara na próxima semana, com parte dos deputados, incluindo o
presidente Hugo Motta, em viagem aos Estados Unidos para encontro com
empresários.
O ponto mais controverso do
texto aprovado está em sua redação ampla, que não limita a suspensão apenas aos
crimes imputados a Ramagem após sua diplomação como deputado federal, em
dezembro de 2022 — condição estabelecida pela Constituição para que a Câmara
possa intervir em ações penais contra parlamentares. A ausência dessa
delimitação acendeu o alerta entre governistas e oposição, que avaliam que o
despacho abre brechas para que a suspensão se estenda ao processo como um todo,
afetando, inclusive, outros réus, como o próprio ex-presidente Jair Bolsonaro.
“O texto não é claro e, na
prática, pode ter o efeito colateral de beneficiar todos os envolvidos na ação
penal”, alertou um deputado da base governista, sob reserva.
Antes da votação, a Primeira
Turma do STF já havia enviado ofício à Câmara, em abril, alertando que a
suspensão da ação penal poderia recair apenas sobre os crimes atribuídos a
Ramagem após sua diplomação como parlamentar, e não sobre o processo como um
todo. A Constituição Federal prevê a possibilidade de sustar ações contra
parlamentares, mas com critérios objetivos — entre eles, que os crimes tenham
sido cometidos durante o mandato.
“Fica sustado o andamento da
Ação Penal contida na Petição n. 12.100, em curso no Supremo Tribunal Federal,
em relação a todos os crimes imputados”.
A decisão da Câmara
representa um embate institucional com o Supremo e deverá gerar reação do
Judiciário, que poderá ser acionado para interpretar os limites da prerrogativa
constitucional da Casa. O caso também reforça as tensões entre os Poderes e
aprofunda o debate sobre impunidade e proteção parlamentar em contextos de
crimes de alta gravidade, como tentativa de golpe de Estado.
Para opositores, a medida é
uma tentativa clara de proteger aliados de Bolsonaro e minar investigações em
curso sobre os ataques à democracia. Já defensores da proposta argumentam que
se trata de uma prerrogativa constitucional legítima do Parlamento.
Com a promulgação do texto pela Câmara, a suspensão já está valendo, mas poderá ser contestada judicialmente. O STF poderá deliberar sobre os limites e a constitucionalidade da decisão da Casa, especialmente se houver indícios de extrapolação da proteção concedida a parlamentares.
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