quinta-feira, 16 de janeiro de 2020

Emails e notas fiscais mostram doações da gestora do DPVAT a agentes públicos


             Emails e notas fiscais que também foram analisadas pela auditoria da KPMG mostraram que a Seguradora Líder atendia pedidos e fazias doações a políticos de diferentes partidos ou pessoas ligadas a eles. O relatório aponta, por exemplo, uma doação para Andrea Neves, irmã do deputado Aécio Neves (PSDB-MG), quando ele era governador de Minas Gerais.

Andrea assina um recibo referente a uma doação de R$ 500 mil que a Líder fez ao Servas (Serviço Voluntário de Assistência Social de Minas Gerais), que na época era presidido por ela.

A auditoria destaca que não recebeu do Servas a prestação de contas dos comprovantes relativos ao destino dessa verba doada pela Líder.

Um outro email mostrou relacionamento próximo entre a Seguradora Líder e o deputado federal Hugo Leal Melo da Silva (PSB-RJ), inclusive com custeio de despesas para o parlamentar.

m 2012, a Líder comprou 300 camisetas, por R$ 3.780, para uma reunião em Brasília. Em um email, uma funcionária da seguradora detalha o pagamento como "mais um" pedido atendido do político.

O deputado também era membro da CPI do DPVAT e participou da audiência que ouviu o então presidente da Líder, Ricardo Xavier.

Em outra solicitação, para desenvolvimento de um site da Frente Parlamentar em Defesa do Trânsito Seguro, presidida por Hugo Leal da Silva, dirigentes da seguradora discutem como abater de outros projetos os R$ 29 mil mensais solicitados.

O ex-deputado Fernando Francischini, então do SD-PR e hoje filiado ao PSL, também é mencionado no relatório. Ele era suplente do seu então partido na CPI do DPVAT.

A auditoria identificou trocas de mensagens entre os administradores da Líder. Em uma delas, o então presidente da seguradora, Ricardo Xavier, sugere datas para uma reunião com o escritório Kfouri & Gorski e diz: "Devemos recebê-los para conhecimento, a esposa do deputado federal Fernando Francischini é sócia e ele falou comigo".

A KPMG afirma, no entanto, que a participação da mulher de Francischini não foi identificada.

O escritório Kfouri & Gorski também é relacionado pela KPMG na subcontratação do escritório Mendonça & Gonçalves, que recebeu cerca de R$ 34 milhões de 2010 a 2017.

Em seu relatório final, de quase 1.000 páginas, a consultoria destaca ter identificado que a relação da Líder com vários agentes públicos não atendeu boas práticas corporativas e apresentava "risco de sanções por descumprimento à lei anticorrupção".

OUTRO LADO

Em nota, a assessoria do deputado Aécio Neves respondeu que o Servas é uma associação civil beneficente que recebe doações de entidades e empresas privadas para investimentos em atividades sociais. "Todas as doações recebidas à época corresponderam a um recibo e tiveram igual trâmite jurídico e contábil em conformidade com a legislação de assistência social".

A nota diz que "o cargo de presidente do Servas é exercido tradicionalmente pela primeira-dama do Estado, quando há alguém na função, e que Andrea Neves foi presidente durante os governos Aécio Neves e Antonio Anastasia, e, nessa condição, era a responsável por assinar recibos e outros documentos".

A assessoria completou que, na ocasião, Aécio, "assim como qualquer outro governador", não participava da administração da entidade, e portanto não tem relação com sua rotina administrativa. "Registra-se que o DPVAT é um seguro da alçada federal, cuja gestão em nada estava relacionada à esfera estadual".




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