
Surgiu mais uma revelação sobre as movimentações financeiras do senador eleito
Flávio Bolsonaro e seu ex-assessor Fabrício Queiroz que está sumido. A revista
VEJA teve acesso a trechos inéditos do relatório do Coaf que documentam
transações que o senador ainda precisa explicar.
Num
deles, o conselho informa que Flavio Bolsonaro movimentou, entre 1º de agosto
de 2017 e 31 de janeiro de 2018, a quantia de 632 229 reais, valor considerado incompatível com sua
renda. Foram 337 508 reais em
créditos e 294 721 em débitos. O
Coaf resumiu assim a situação: “Suspeição: nossa comunicação foi motivada em
razão de o cliente movimentar recursos superiores a sua capacidade financeira”.
Trocando em miúdos: entendeu-se que as rendas de Bolsonaro não eram suficientes
para explicar aquele volume de dinheiro em sua conta bancária.
Em
entrevistas, Flavio Bolsonaro tem dito que a maior parte de seus rendimentos
vem de suas atividades empresariais, e não dos proventos como deputado
estadual. Mas os dados do Coaf também põem em xeque essa afirmação. A principal
fonte de receita da conta bancária do filho do presidente, nos seis meses
analisados pelo Coaf, foram os salários de deputado estadual — no total, ele
recebeu 131 508 reais. É mais
do que os 120.000 reais ganhos da Bolsotini Chocolates e Café, que administra
uma franquia da Kopenhagen. Somadas as duas quantias, chega-se a um total de R$
251.508 reais. O relatório não informa se detectou ou não a origem dos R$ 90
mil reais restantes. Parece pouco, mas trata-se de análise de um período de
apenas seis meses.
Flavio
Bolsonaro é dono de 50% da Bolsotini. Também é sócio da Bolsonaro Digital, ao
lado dos pais, Jair e Rogéria, e dos irmãos Eduardo e Carlos, mas o Coaf não
registrou no relatório um centavo sequer recebido dessa empresa. Apesar de ter
rendido ao então deputado estadual R$ 20.000 reais mensais no período analisado
pelo Coaf — ou seja, menos que o salário bruto de R$ 27.000 reais pago pela
Alerj —, a loja de chocolates em um shopping na Barra da Tijuca pode ser
considerada um caso de sucesso estrondoso se comparada às concorrentes. No Rio
de Janeiro, as franquias da Kopenhagen lucram em média, segundo fontes do
mercado, de R$ 8.400 reais a R$ 10.500 reais por mês. VEJA procurou o sócio de
Flavio nesse empreendimento, Alexandre Santini, para saber se todo o lucro da
empresa ficava com o senador eleito e por que a dupla embolsava bem mais que a
média. Santini, que já postou em suas redes sociais fotos tiradas dentro do
Palácio do Planalto, não quis dar explicações.
Se
deseja começar seu mandato no Senado com tranquilidade, Flavio Bolsonaro terá
uma semana para desfazer suspeitas que se acumulam desde dezembro, quando o
enrosco de Queiroz foi revelado. Mantida a situação atual, ele entra no
Parlamento enfraquecido, a despeito da montanha de 4 milhões de votos. Mais
grave, ele se tornou um constrangimento para o presidente Jair Bolsonaro. Como
o filho pródigo da parábola narrada no Evangelho de Lucas, Flavio vem
dissipando o bem mais precioso da família: o substancioso capital político
acumulado na vitória eleitoral do ano passado.
Quanto
aos bens materiais, a história é bem outra. O crescimento patrimonial de
Flavio, desde o início de sua carreira política, é portentoso. Na declaração de
bens que fez à Justiça Eleitoral em 2002, quando se elegeu deputado estadual
pela primeira vez, ele elencava apenas um item, um Gol 1.0, no valor de R$ 25.500
reais. No ano passado, quando apresentou nova declaração para se candidatar ao
Senado, o total de seus bens saltara para R$ 1,7 milhão de reais, incluindo um
carro Volvo, dois imóveis (um residencial e um comercial) e a loja da franquia
Kopenhagen.
Em
outro trecho inédito acessado por VEJA, o Coaf também registrou novos indícios
de lavagem de dinheiro contra Fabrício Queiroz. Entre 20 de dezembro de 2017 e
6 de junho de 2018, quando as atenções estavam voltadas para a sucessão
presidencial, o ex-motorista sacou R$ 190 mil reais em 38 operações distintas.
Foi uma tentativa, suspeita o Coaf, de driblar a fiscalização: “Verificamos
fracionamento nos saques em espécie com cartão de débito, fatos que nos
despertam a suspeita de ocultação do destino deste valor e a sua finalidade”. Entre
23 de janeiro e 15 de março de 2017, a mesma conta teve movimentações
financeiras consideradas suspeitas em razão de saques fracionados e da
“possibilidade de ocultação da origem e destino dos portadores”. Foram R$ 49
mil reais em saques suspeitos.
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