Enquanto
isso, ele tem dado um "jeitinho" para governar, conforme a reportagem
do UOL presenciou em visita à cidade distante 213 km da capital Recife. Por lá,
ele não só enfrenta a oposição de nomes que dominam a política local há quase
três décadas, como encara o ceticismo de seu povo.
Um
dos nove indígenas eleitos como prefeito de uma das 6.570 cidades do país e o
único de Pernambuco, Marcos, dos Republicanos, venceu nas urnas Maria José
Tenório (DEM), que tentava a reeleição. Foi a primeira vez que a população
elegeu um indígena para o Executivo do município. Dos 67 mil habitantes, 17%
são indígenas.
No
dia em que a reportagem visitou Pesqueira, Marcos atrasou à entrevista por ter
passado parte da manhã em visita à obra de uma escola em uma aldeia. Naquela
tarde ainda encontrou um bispo da cidade. Nomeado pelo vereador Sebastião
Leite, o Bal de Mimoso (Republicanos), que é o presidente da Câmara da cidade
e, por isso, assumiu a prefeitura interinamente, ele foi nomeado secretário do
Governo para coordenar projetos, além de liderar secretarias e demais órgãos da
cidade. O arranjo foi a saída desenhada pelos dois aliados para Marcos
governar.
Ele
obteve 51,60% dos votos, mas teve sua candidatura indeferida após Tenório abrir
uma ação na Justiça Eleitoral por Marcos ter sido condenado por incitar um
incêndio 17 anos atrás. Por 4 votos a 3, o TRE-PE (Tribunal Regional Eleitoral
de Pernambuco) barrou sua participação na eleição ao enquadrá-lo na Lei da
Ficha Limpa, que impede condenados em segunda instância de participar em
pleitos. O cacique eleito recorreu ao TSE, argumentando que o crime de incêndio
não se enquadra nos critérios previstos pela Lei da Ficha Limpa.
Como
cacique em Pesqueira, Marcos Xukuru lidera 24 aldeias, ocupadas por cerca de 12
mil pessoas. Marcos argumenta que já não precisa se dedicar exclusivamente
porque cumpriu sua missão. Além disso, diz, cada uma delas tem suas lideranças.
Em um processo contra o Estado brasileiro na CIDH por atos de violências e
mortes sofridas pelos indígenas devido à luta por terra no país, a corte
internacional determinou em 2018 que o Brasil indenizasse os indígenas em US$ 1
milhão. O dinheiro foi depositado em meados de 2020 em uma conta da Associação
Xukuru, que possui Marcos como um dos responsáveis.
Na época, ele afirmou que usaria o valor para atender famílias e fazer melhorias no território indígena. Mais de um ano após o recebimento da indenização, Gildo Xukuru questiona seu destino. "O povo indígena nunca viu esse dinheiro", conta. O cacique não se pronunciou a reportagem sobre o questionamento de Gildo que desconfiava que parte da indenização foi utilizada na campanha eleitoral.
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