segunda-feira, 9 de agosto de 2021

Pesqueira: Cacique barrado dá 'jeitinho' para governar

                     Matéria publicada pelo Portal UOL da jornalista Giovanna Carneiro, revela bastidores e fatos que envolvem a eleição para prefeito de Pesqueira em 2020 que ainda está na dependência dos STF e do TSE. 

Filho de uma liderança histórica da causa indígena, Marcos Xukuru virou cacique da nação indígena Xukuru do Ororubá muito jovem após seu pai ser assassinado. Eleito em 2020, ele seria um dos pouquíssimos prefeitos indígenas do país, mas barrado com base Lei da Ficha Limpa e não assumiu a cidade de Pesqueira (PE). Agora, sua carreira política depende de uma decisão do TSE (Tribunal Superior Eleitoral) e do STF (Supremo Tribunal Federal).

Enquanto isso, ele tem dado um "jeitinho" para governar, conforme a reportagem do UOL presenciou em visita à cidade distante 213 km da capital Recife. Por lá, ele não só enfrenta a oposição de nomes que dominam a política local há quase três décadas, como encara o ceticismo de seu povo.

Um dos nove indígenas eleitos como prefeito de uma das 6.570 cidades do país e o único de Pernambuco, Marcos, dos Republicanos, venceu nas urnas Maria José Tenório (DEM), que tentava a reeleição. Foi a primeira vez que a população elegeu um indígena para o Executivo do município. Dos 67 mil habitantes, 17% são indígenas.

No dia em que a reportagem visitou Pesqueira, Marcos atrasou à entrevista por ter passado parte da manhã em visita à obra de uma escola em uma aldeia. Naquela tarde ainda encontrou um bispo da cidade. Nomeado pelo vereador Sebastião Leite, o Bal de Mimoso (Republicanos), que é o presidente da Câmara da cidade e, por isso, assumiu a prefeitura interinamente, ele foi nomeado secretário do Governo para coordenar projetos, além de liderar secretarias e demais órgãos da cidade. O arranjo foi a saída desenhada pelos dois aliados para Marcos governar.

Ele obteve 51,60% dos votos, mas teve sua candidatura indeferida após Tenório abrir uma ação na Justiça Eleitoral por Marcos ter sido condenado por incitar um incêndio 17 anos atrás. Por 4 votos a 3, o TRE-PE (Tribunal Regional Eleitoral de Pernambuco) barrou sua participação na eleição ao enquadrá-lo na Lei da Ficha Limpa, que impede condenados em segunda instância de participar em pleitos. O cacique eleito recorreu ao TSE, argumentando que o crime de incêndio não se enquadra nos critérios previstos pela Lei da Ficha Limpa.

Como cacique em Pesqueira, Marcos Xukuru lidera 24 aldeias, ocupadas por cerca de 12 mil pessoas. Marcos argumenta que já não precisa se dedicar exclusivamente porque cumpriu sua missão. Além disso, diz, cada uma delas tem suas lideranças. Em um processo contra o Estado brasileiro na CIDH por atos de violências e mortes sofridas pelos indígenas devido à luta por terra no país, a corte internacional determinou em 2018 que o Brasil indenizasse os indígenas em US$ 1 milhão. O dinheiro foi depositado em meados de 2020 em uma conta da Associação Xukuru, que possui Marcos como um dos responsáveis.

Na época, ele afirmou que usaria o valor para atender famílias e fazer melhorias no território indígena. Mais de um ano após o recebimento da indenização, Gildo Xukuru questiona seu destino. "O povo indígena nunca viu esse dinheiro", conta. O cacique não se pronunciou a reportagem sobre o questionamento de Gildo que desconfiava que parte da indenização foi utilizada na campanha eleitoral. 

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