Não durou nem uma semana a imagem que o julgamento do TCE tentou construir pela regularidade da dispensa dos respiradores de porcos. A Polícia Federal resolveu divulgar, hoje, uma nota oficial direta, clara e objetiva, afirmando que houve sim crime por parte de agentes públicos da gestão do ex-prefeito Geraldo Júlio (PSB), batizado pelo jornalista de Geraldo Covidão. São três, mas os nomes não foram divulgados.
A
Polícia Federal concluiu ontem a investigação sobre aquisição de ventiladores
pulmonares pela empresa sediada em São Paulo na chamada Operação Apneia.
Após
um ano de tramitação do inquérito policial, com a deflagração de três fases,
mediante colaboração de outros órgãos, especialmente da Controladoria Geral da
União e da Agência Pernambucana de Vigilância Sanitária, foi possível desvendar
delitos praticados por empresários e servidores públicos, relacionados à
contratação de empresa para fornecimento de respiradores sem certificações da
ANVISA ou de quaisquer outras procedências, para enfrentamento à Pandemia de
Covid-19.
Foram
apuradas fraudes na contratação da empresa e na execução do contrato, inclusive
pagamento indevido por 50 respiradores em 1º de abril de 2020, sendo entregues
somente 35 desses. Essa entrega foi iniciada mais de 20 dias após a efetivação
desse pagamento, apesar de uma servidora ter atestado falsamente uma nota
fiscal também falsa, antes da data do pagamento, como se a empresa já os
tivesse entregue. Apurou-se, também, que o ordenador de despesas que determinou
o pagamento tinha ciência dessa circunstância.
Restou
igualmente apurado que responsáveis por um grupo empresarial paulista se
utilizaram de microempresa “fantasma” para contratar com a Secretaria de Saúde
de Recife, uma vez que empresas existentes de fato não poderiam contratar com
órgãos públicos, por terem contraído débitos fiscais e previdenciários
anteriormente. Tais débitos se aproximavam do patamar de R$ 10 milhões.
Também
foram indiciados três empresários. Apesar de a maioria dos indiciamentos terem
ocorrido em agosto de 2020, as investigações prosseguiram para apuração da
participação de outras pessoas e da materialidade de outros crimes. Nesse
sentido, ao longo desta semana, a PF de Pernambuco recebeu dados de outro
inquérito que tramita em Campinas/SP, no qual uma Prefeitura, através de sua
Secretaria de Saúde, esclareceu que chegou a utilizar os respiradores do mesmo
modelo adquirido pela Prefeitura de Recife. Contudo, técnicos verificaram a
inadequação da eficácia dos ventiladores pulmonares, razão pela qual estes
foram devolvidos à empresa contratada.
Aos
empresários indiciados, foram imputadas as condutas de falsificação de
documentos e de terem sido beneficiados em dispensa irregular de licitação. O
responsável pela empresa contratada foi indiciado também pelos crimes de
sonegação fiscal e previdenciária, e ainda crime contra a saúde pública. As
penas máximas, somadas, podem chegar a 35 anos de prisão.
Quanto
aos servidores públicos envolvidos, um deles foi indiciado pelo crime de
dispensar ilegalmente uma licitação pública, ao passo que aos demais foi também
imputado o delito de peculato. Nesse caso, a pena máxima é de 17 anos de
prisão.
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