Carta
reproduzida do Facebook de Julia Dworkin
Dilma,
Eu
vou falar diretamente com você. Sei que você não vai ler isso aqui, mas eu
gostaria de ter uma conversa com você, de mulher pra mulher.
Eu não sou petista. Atualmente, me encontro recém incluída no debate político,
mas eu já sei que discordo demais de muitas políticas do PT. Me considero de
esquerda e minha oposição em nada se parece com a oposição exercida pela
direita conservadora e hipócrita do Brasil. Essa oposição que não gosta de ver
pobre comprando carro e empregada doméstica com direitos. Minha oposição se
deve à outras coisas, mas não vim falar delas. Só iniciei essa introdução
porque essa não será uma conversa sobre política. Será uma conversa sobre você.
Eu
lembro quando você se elegeu em 2010. Na época, eu não entendia absolutamente
nada de política e nem sequer votei em você. Mas eu lembro do que eu senti
quando te vi com a faixa presidencial pela primeira vez. Eu lembro que mesmo eu
não sabendo exatamente o que aquilo significava, eu fiquei feliz. Eu fiquei
confusa, estranhei bastante, mas ver alguém que poderia ser minha mãe
representando o Brasil, fez com que eu me sentisse mais próxima à tudo.
Você
começou a fazer parte da minha vida. O fato de você ser mulher fez isso: eu me
sinto próxima de você. Quando falo de política e de você, me sinto falando de
alguém que eu conheço e convivo. E isso não se deve ao PT e eu não me sentia
assim com o Lula ou com nenhum outro político. É estranho, né? Eu não sei
explicar. Mas pela primeira vez, eu me interessava quando a figura de
representatividade máxima falava na televisão. Eu gosto de te ver. Adoro ver
você falar na televisão. Nas últimas eleições, eu adorava ver televisão e ouvir
sua voz.
Essa
semana te vi na televisão. Você estava abatida e com um semblante triste.
Pudera. Eu
nunca vi um presidente do Brasil passar pelo que você passou. Eu sequer imagino
o que você está sentindo depois de tantas adversidades, humilhações, escárnios
e críticas oportunistas. Nem mesmo o FHC, e eu lembro vagamente de que ele era
odiado por todo mundo na época.
Mas
eu não vi o tipo de coisa que vejo as pessoas fazendo com você. Eu não vi
adesivos desrespeitosos, vaias, charges absolutamente machistas e que ignoram
totalmente sua posição nesse país. E eu imagino o que você deve estar passando.
Você é uma mulher que representa uma país machista e que está em crise. Eu
tenho plena consciência que você sabia o que tava por vir, mas isso não quer
dizer que você tenha que aguentar sozinha. Até porque você não está sozinha e
suas companheiras estão além da política. Como eu.
Vim
aqui te dizer Dilma, que apesar das divergências políticas que tenho com o
governo, eu te admiro profundamente. Admiro sua história e sua postura. Admiro
sua coragem. E ouvir você falar me emociona, todas as vezes. Quero te dizer que
eu sofro e choro com você todas as vezes que te atacam de forma pessoal, cruel
e criminosa. Dói em mim. Toda vez que me deparo com esses ataques, sempre penso
em como você está se sentindo ao ver aquilo. E penso em todas as vezes que isso
já aconteceu comigo e com as mulheres que eu gosto, não em nível nacional, mas
ainda assim. Quando vejo os olhares que te lançam e a forma que falam de você,
lembro-me de quantas vezes enquanto eu falava, homens me olhavam com aquele
mesmo olhar de desprezo. E quantas vezes falaram de mim de forma desrespeitosa
e cruel. Lembro da insegurança que sinto quando vou falar em público, lembro de
como eu me sinto ao falar em espaços que eu sei que todos acreditam não ser
meu. Eu me lembro o quanto é dolorido e difícil. E seu rosto abatido não
mente.
Seu rosto abatido da última semana me representa. Representa todas as mulheres
atacadas, agredidas, silenciadas e humilhadas nesse país. Seu rosto da última semana me lembra o quanto mulheres pagam mais caro. Eu
me preocupo com você, irmã. Minha admiração por você está para além do governo
ou do momento que estamos vivendo.
Porque
apesar de QUALQUER COISA, foi você que ao colocar aquela faixa de presidenta do
Brasil disse pra mim que eu PODERIA CHEGAR LÁ. Você disse pra todas as mulheres
que aquilo era possível. Que nós existimos. E toda a sua coragem diante dos
ataques machistas e desumanos nos diz: Não só existimos. Como RESISTIMOS e
SOBREVIVEMOS. Você é parte da nossa história.
E
isso nunca NINGUÉM vai te tirar. E eles nunca entenderão o que isso representa
pra mim e pra muitas outras mulheres desse país. E nós jamais esqueceremos de
você. E também não esqueceremos do que fizeram contigo, do desrespeito e da
falta de humanidade. Não vamos esquecer do último dia da mulher, quando um
jornal colocou a representante máxima desse país de joelhos em uma charge. Não
vamos esquecer isso, pois foi um recado para todas nós.
Você
não tá sozinha Presidenta e eu vim te dizer que você deve sempre lembrar quem
você é. Nunca abaixe a cabeça. Não deixe que esses dias muito duros te façam
esquecer que você é uma sobrevivente, uma mulher, mãe, avó, filha e a primeira
mulher que disse pra nós: "um dia pode ser você".
Obrigada.
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