Em
café da manhã com jornalistas da mídia estrangeira, na manhã desta sexta-feira,
o presidente Jair Bolsonaro usou informações falsas para atacar a
colunista do GLOBO Míriam Leitão. Ele afirmou que a jornalista integrou a
luta armada contra a ditadura militar instalada no país em 1964 e dirigia-se à
guerrilha do Araguaia quando foi presa, na década de 1970. Disse ainda que
Míriam mente ao afirmar que sofreu abusos e foi torturada na prisão.
Na
última terça-feira, a 13ª Feira do Livro de Jaraguá do Sul, em Santa Catarina,
anunciou ter cancelado a participação da jornalista e de seu marido, o
sociólogo Sérgio Abranches, "para garantir a segurança dos
convidados" no evento, após receberem uma petição de repúdio à presença
deles devido a seu "viés ideológico e posicionamento".
Intelectuais criticaram
a exclusão da jornalista e do sociólogo da feira e classificaram o
episódio de intolerância como "inaceitável".
Na
entrevista desta sexta, ao ser questionado sobre o episódio da feira,
Bolsonaro se disse "completamente aberto à liberdade de imprensa". Em
seguida, acrescentou que Míriam Leitão deveria aprender a receber críticas —
como ele, sustentou o presidente, teria aprendido. E, de forma equivocada,
afirmou que a jornalista "tentou impor a ditadura no Brasil na luta
armada".
— Ela
estava indo para a guerrilha do Araguaia quando foi presa em Vitória. E depois
(Míriam) conta um drama todo, mentiroso, que teria sido torturada , sofreu
abuso etc. Mentira. Mentira — disse ele aos correspondentes de veículos
estrangeiros.
Bolsonaro
disse ainda que Míriam serve a um "império" que não tem mais
"aquela força que tinha no passado", em referência à mídia
tradicional, que pratica jornalismo profissional. E, com o celular na mão, o
presidente exaltou o que chamou de "mídia completamente livre", em
referência às redes sociais.
Presa em 1972
Em
1972, Míriam Leitão era, aos 19 anos, estudante universitária e militante do
PCdoB, atuando no Espírito Santo. Suas atividades consistiam em reuniões,
distribuição de panfletos e pichação de muros com palavras de ordem contra
a ditadura militar instalada no país em 1964, após golpe de Estado.
Durante sua militância, Míriam não integrou nem cogitou integrar a
guerrilha do Araguaia.
—
Não estava indo para a guerrilha do Araguaia. Nunca fiz qualquer ação armada —
afirma a colunista.
Míriam
foi presa em 3 de dezembro de 1972 quando ia para a praia com o então
companheiro e levada para o 38º Batalhão de Infantaria do Exército,
instalado no Forte de Piratininga, em Vila Velha, cidade vizinha a Vitória. Lá,
grávida, foi torturada por diversos métodos e ficou encarcerada por três meses.
Em
1973, no Rio, Míriam Leitão prestou depoimento à Primeira Auditoria da
Aeronáutica, onde foi julgada. Grávida então de sete meses, ela denunciou
a brutalidade a qual foi submetida, mesmo correndo riscos.
—
Narrei a tortura aos militares e ao juiz auditor, que fez constar nos autos um
trecho do relato. Fui absolvida (das acusações) em todas as instâncias — afirmou
Míriam Leitão, que, apesar da legislação após a redemocratização
permitir, nunca pediu indenização pela perseguição política, a prisão
e a tortura por agentes do Estado brasileiro.
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