Milton
Gonçalves convivia com sequelas desde que sofreu um acidente vascular cerebral
isquêmico, em 2020. Na época, o ator ficou três meses internado. Durante o
processo de recuperação, o artista ficou com a voz mais baixa que o normal e
passou a andar apenas de cadeira de rodas, pois sentia dificuldades na perna
esquerda. Devido a recuperação mais lenta, por conta da idade, o ator acabou
ficando de fora da segunda temporada do especial de Natal "Juntos a magia
acontece", da Globo.
Milton
Gonçalves morreu nesta segunda-feira, dia 30, por volta de 12h30, como
informaram os familiares ao G1. Ele estava em casa.
Mineiro,
de Monte Santo, o ator estreou na profissão em 1958, primeiro no teatro. A
estreia na TV Globo se deu sete anos depois. O último trabalho na emissora foi
a série "Filhas de Eva", do Globoplay, lançada em 2021. A produção
será exibida na TV Globo ainda este ano.
Um
dos pioneiros atores negros da TV brasileira, Milton Gonçalves começou a
carreira em São Paulo. Ele trabalhava como gráfico quando, após
de assistir à peça "A mão do macaco", decidiu entrar para
um clube de teatro amador. Logo, seus caminhos cruzaram com os do
diretor carioca Augusto Boal, que procurava um ator para fazer
um preto velho na peça “Ratos e homens”, no Teatro de Arena de
São Paulo. Lá, Milton encontrou atores como Gianfrancesco Guarnieri
e Flavio Migliaccio, além do dramaturgo Oduvaldo Viana Filho, que
foram decisivos para a sua formação como ator.
Militante
do movimento negro, Milton Gonçalves participou do Teatro Experimental do
Negro, candidatou-se a governador do estado do Rio de Janeiro em 1994 pelo PMDB
(experiência que o ajudou a compor o personagem Romildo Rossi, um político
corrupto, na novela “A favorita”, de 2008) e foi o primeiro brasileiro a
apresentar uma categoria na cerimônia de premiação do Emmy
Internacional em 2006, ao lado da atriz americana Susan Sarandon para
anunciar o vencedor de melhor programa infanto-juvenil.
Milton
estreou na TV na Tupi, fazendo participação em “O vigilante rodoviário” e
participou da fundação da TV Globo, em 1965. Lá, junto com Célia Biar e Milton
Carneiro, formou o primeiro elenco de atores da emissora, a convite do ator e diretor
Otávio Graça Mello, de quem fora companheiro de set no filme “Grande Sertão”,
dos irmãos Geraldo e Renato Santos Pereira. “Não tinha inaugurado nada ainda.
Os três estúdios e o auditório pareciam para mim os estúdios da Universal. O
primeiro salário foi 500 cruzeiros. E eu fiquei feliz”, recordou-se ele ao
Memória Globo.
Na
Globo, Milton Gonçalves fez mais de 40 novelas, atuou em programas humorísticos
e minisséries. Entre os primeiros papéis marcantes, estiveram o Professor Leão
do infantil “Vila Sésamo” (1972) e o Zelão das Asas de “O bem-amado” (1973, de
Dias Gomes), personagem que representava uma metáfora da busca por liberdade
política e de expressão em plena ditadura. “O Zelão das Asas mexeu com uma
coisa muito cara à população: a fé. O Zelão sou eu, aquele que acredita e
cumpre com o que combinou. Eu estou na vida para servir de exemplo”, disse o
ator em depoimento ao Memória Globo.
Em “Pecado capital” (1975), novela de Janete Clair, Milton Gonçalves fez história em uma TV acostumada a destinar aos atores negros papéis de subalternos: o do psiquiatra Percival, médico renomado, com vários cursos internacionais. A autora até ensaiou um romance do psiquiatra com a branca Vitória (Theresa Amayo), a filha mais velha de Salviano (Lima Duarte), mas o público reagiu mal, e os planos foram abortados. “Eu fui à Janete e disse: ‘Gostaria de fazer um personagem que fosse bacana, culto, inteligente, um exemplo para aquele menininho que está no morro, na favela e que só vê negro sendo bandido na televisão, ou que não aparece’”, contou o ator ao Memória Globo. De O Globo
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