sexta-feira, 5 de julho de 2019

Divulgação de mensagens inéditas aponta orientação ilegal de Moro nas ações da Lava Jato


              O site The Intercept Brasil junto com a revista Veja analisaram mensagens inéditas do ministro Sergio Moro. Alguns trechos da conversa já foram divulgados ao longo do mês de junho e geraram polêmica por todo o País. Na parceria, foram analisadas 649.551 mensagens. Nas conversas publicadas pelo The Intercept Brasil, Moro mandava acelerar ou atrasar algumas operações e pedia a inclusão de provas em processos que não estavam, ainda, em sua responsabilidade. 

No primeiro diálogo, Dallagnol, chefe da força-tarefa na época, informa a procuradora Laura que Moro alertou sobre uma informação que estava faltando na denúncia do réu Zwi Skornicki (acusado de pagar propina a ex-funcionários de um estaleiro do Estado). A informação foi incluída no dia seguinte.

A segunda conversa relata a cobrança de Moro, em 28 de abril de 2016, sobre a manifestação do MPF em relação ao pedido de revogação de prisão preventiva de José Carlos Bumlai. Dallagnol responde que irá providenciar. 

Na sequência, no dia 5 de julho de 2017, Moro questionou Deltan Dallagnol sobre rumores de uma possível delação premiada do ex-presidente da Câmara dos Deputados, Eduardo Cunha (MDB-RJ). Na conversa, o então juiz mostrou-se contrário a um possível acordo. "Espero que não procedam", escreveu Moro às 23h11. "Só rumores. Não procedem", respondeu Dallagnol três minuto depois. "Acompanharemos tudo. Sempre que quiser, vou te colocando a par", finalizou. "Agradeço se me mantiver informado. Sou contra, como sabe", opinou Moro.

Cunha teria prometido falar sobre Temer e pelo menos mais 50 deputados, senadores e ministros, entre outros políticos. A proposta de delação do ex-presidente da Câmara foi rejeitada pela Lava-Jato um mês depois da conversa entre Dallagnol e Moro no Telegram.

Em outra conversa, entre o procurador Athayde Costa e um interlocutor que não foi identificado, que segundo a VEJA, seria a delegada da PF Erika Marena; O procurador questiona onde está o documento apreendido com Flávio Barra, preso pela Lava Jato, e a delegada responde que esqueceu de incluir o arquivo no processo eletrônico, porque Moro pediu para "não ter pressa".

Em outro diálogo entre Moro e Dallagnol, o atual ministro cobra o procurador sobre a data de manifestação do MPF para um habeas corpus impetrado pela Odebrecht. Deltan diz que ficará pronto em um dia, mas acaba se atrasando e sugere enviar uma provisória para que o juiz consiga preparar a decisão.

Ainda de acordo com a revista, em 13 de julho de 2015, Deltan deixou uma reunião com Fachin e logo comentou o resultado da conversa com os demais procuradores da força-tarefa, por meio do aplicativo Telegram. "Caros, conversei 45 m com o Fachin. Aha uhu o Fachin é nosso."

Na sexta conversa divulgada pela parceria entre The Intercpet/VEJA, o procurador Paulo Galvão e o procurador Roberson Pozzobon discute sobre a realização de uma operação que deveria acontecer até novembro, por um pedido de Moro, para que a denúncia fosse apresentada até o fim do ano. A operação foi realizada e acabou na prisão de Carlos Bumlai. Moro aceitou a denúncia apenas um dia depois do MPF divulgar a apresentação.

O último diálogo divulgado, ocorreu em um grupo chamado "PF-MPF LAVA JATO 2". Os interlocutores não foram identificados, mas a VEJA disse ser o procurador Carlos Fernando dos Santos Lima e o delegado da PF, Igor Romário. Segundo a conversa, Moro teria sugerido a data de realização de operação do almirante Othon Luiz Pinheiro da Silva.

As mensagens revelam ainda que o apresentador Fausto Silva, da TV Globo, forneceu uma espécie de assessoria de comunicação a Moro e à força-tarefa da Lava-Jato. Faustão sugeriu que o agora ministro usasse uma "linguagem mais simples, do povão" durante as entrevistas ou coletivas.

Segundo a revista, no dia 7 de maio de 2016, Moro comentou a recomendação do apresentador do Domingão do Faustão com o procurador Deltan Dallagnol pelo Telegram. "Ele disse que vocês, nas entrevistas ou nas coletivas, precisam usar uma linguagem mais simples. Para todo mundo entender. Para o povão. Disse que transmitiria o recado. Conselho de quem está a (sic) 28 anos na TV. Pensem nisso", relatou Moro ao procurador. O apresentador confirmou a conversa com Sérgio Moro à reportagem. 

Em nota, o ministro diz não reconhecer a autenticidade de supostas mensagens obtidas pelo portal.  

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