sábado, 26 de janeiro de 2019

Coaf diz que Flávio Bolsonaro fez movimentações acima dos seus rendimentos


           Surgiu mais uma revelação sobre as movimentações financeiras do senador eleito Flávio Bolsonaro e seu ex-assessor Fabrício Queiroz que está sumido. A revista VEJA teve acesso a trechos inéditos do relatório do Coaf que documentam transações que o senador ainda precisa explicar.

Num deles, o conselho informa que Flavio Bolsonaro movimentou, entre 1º de agosto de 2017 e 31 de janeiro de 2018, a quantia de 632229 reais, valor considerado incompatível com sua renda. Foram 337508 reais em créditos e 294721 em débitos. O Coaf resumiu assim a situação: “Suspeição: nossa comunicação foi motivada em razão de o cliente movimentar recursos superiores a sua capacidade financeira”. Trocando em miúdos: entendeu-se que as rendas de Bolsonaro não eram suficientes para explicar aquele volume de dinheiro em sua conta bancária.

Em entrevistas, Flavio Bolsonaro tem dito que a maior parte de seus rendimentos vem de suas atividades empresariais, e não dos proventos como deputado estadual. Mas os dados do Coaf também põem em xeque essa afirmação. A principal fonte de receita da conta bancária do filho do presidente, nos seis meses analisados pelo Coaf, foram os salários de deputado estadual — no total, ele recebeu 131508 reais. É mais do que os 120.000 reais ganhos da Bolsotini Chocolates e Café, que administra uma franquia da Kopenhagen. Somadas as duas quantias, chega-se a um total de R$ 251.508 reais. O relatório não informa se detectou ou não a origem dos R$ 90 mil reais restantes. Parece pouco, mas trata-se de análise de um período de apenas seis meses.

Flavio Bolsonaro é dono de 50% da Bolsotini. Também é sócio da Bolsonaro Digital, ao lado dos pais, Jair e Rogéria, e dos irmãos Eduardo e Carlos, mas o Coaf não registrou no relatório um centavo sequer recebido dessa empresa. Apesar de ter rendido ao então deputado estadual R$ 20.000 reais mensais no período analisado pelo Coaf — ou seja, menos que o salário bruto de R$ 27.000 reais pago pela Alerj —, a loja de chocolates em um shopping na Barra da Tijuca pode ser considerada um caso de sucesso estrondoso se comparada às concorrentes. No Rio de Janeiro, as franquias da Kopenhagen lucram em média, segundo fontes do mercado, de R$ 8.400 reais a R$ 10.500 reais por mês. VEJA procurou o sócio de Flavio nesse empreendimento, Alexandre Santini, para saber se todo o lucro da empresa ficava com o senador eleito e por que a dupla embolsava bem mais que a média. Santini, que já postou em suas redes sociais fotos tiradas dentro do Palácio do Planalto, não quis dar explicações.

Se deseja começar seu mandato no Senado com tranquilidade, Flavio Bolsonaro terá uma semana para desfazer suspeitas que se acumulam desde dezembro, quando o enrosco de Queiroz foi revelado. Mantida a situação atual, ele entra no Parlamento enfraquecido, a despeito da montanha de 4 milhões de votos. Mais grave, ele se tornou um constrangimento para o presidente Jair Bolsonaro. Como o filho pródigo da parábola narrada no Evangelho de Lucas, Flavio vem dissipando o bem mais precioso da família: o substancioso capital político acumulado na vitória eleitoral do ano passado.

Quanto aos bens materiais, a história é bem outra. O crescimento patrimonial de Flavio, desde o início de sua carreira política, é portentoso. Na declaração de bens que fez à Justiça Eleitoral em 2002, quando se elegeu deputado estadual pela primeira vez, ele elencava apenas um item, um Gol 1.0, no valor de R$ 25.500 reais. No ano passado, quando apresentou nova declaração para se candidatar ao Senado, o total de seus bens saltara para R$ 1,7 milhão de reais, incluindo um carro Volvo, dois imóveis (um residencial e um comercial) e a loja da franquia Kopenhagen.

Em outro trecho inédito acessado por VEJA, o Coaf também registrou novos indícios de lavagem de dinheiro contra Fabrício Queiroz. Entre 20 de dezembro de 2017 e 6 de junho de 2018, quando as atenções estavam voltadas para a sucessão presidencial, o ex-motorista sacou R$ 190 mil reais em 38 operações distintas. Foi uma tentativa, suspeita o Coaf, de driblar a fiscalização: “Verificamos fracionamento nos saques em espécie com cartão de débito, fatos que nos despertam a suspeita de ocultação do destino deste valor e a sua finalidade”. Entre 23 de janeiro e 15 de março de 2017, a mesma conta teve movimentações financeiras consideradas suspeitas em razão de saques fracionados e da “possibilidade de ocultação da origem e destino dos portadores”. Foram R$ 49 mil reais em saques suspeitos.

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